Título: Aliados tentam convencer Renan a se afastar da presidência do Senado
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2007, Politica, p. A8

Senadores ligados ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), reabriram negociações com o alagoano para que se afaste do cargo. Desta vez, a solução que está sendo construída não se limita a uma licença temporária. A renúncia ao cargo está na mesa de negociações.

O pemedebista sempre resistiu às pressões da oposição e aos conselhos de aliados para se licenciar, mas está convencido da total falta de condições de permanecer no comando do Senado. Ficou abatido com o bombardeio a que foi submetido na sessão de terça-feira. Sua autoridade ficou esfacelada. Bateu boca com senadores, ouviu ex-aliados apelando por sua saída. A tropa de choque não apareceu para defendê-lo.

Na avaliação de amigos, se Renan fosse julgado hoje no plenário, nem 20 dos 81 senadores votariam pela preservação do seu mandato. Em 12 de setembro, 40 votaram contra a cassação, 35 a favor e seis se abstiveram. Desde então, a crise só se agravou. Os amigos estão incomodados e o governo, preocupado com a votação da prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

Líderes governistas querem ver a crise solucionada até o fim de novembro, quando a proposta de emenda constitucional (PEC) pode chegar ao plenário. A saída para Renan está sendo construída pelos senadores José Sarney (PMDB-AP) e Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo. Até a líder do PT, Ideli Salvatti (SC), participou de reuniões. O governador de Alagoas, Teotonio Vilela (PSDB), aliado de Renan, foi acionado ontem.

Buscam uma saída honrosa. Desde o início da crise, Renan esteve convencido de que o afastamento o enfraqueceria, contribuindo para sua cassação. Usou sempre o exemplo do ex-presidente do Senado Jader Barbalho (PMDB-PA), que deixou o cargo mas acabou tendo de renunciar ao mandato.

Há quatro processos por quebra de decoro em andamento contra Renan. Apuram as seguintes denúncias: atuação para beneficiar a cervejaria Schincariol, sociedade oculta em emissoras de rádio e um jornal de Alagoas, esquema de arrecadação ilegal de recursos em ministérios comandados pelo PMDB e espionagem de senadores da oposição.

Ontem, o senador Jefferson Péres (PDT-AM), um dos mais respeitados da Casa e defensor do afastamento de Renan da presidência do Senado, foi designado relator do caso das rádios de Alagoas. "O fato em si é grave, mas o pedido será pela cassação apenas se conseguir provas", disse.

Como relator de representações contra os ex-senadores Luiz Estêvão (PMDB-DF), em 2000, e Ney Suassuna (PMDB-PB), em 2006, Péres pediu a cassação dos colegas. Estêvão foi o único senador cassado em plenário.

A escolha de Péres foi bem recebida pela oposição. Leomar Quintanilha abriu uma crise recentemente ao nomear Almeida Lima (PMDB-SE) para relatar o caso do esquema de desvio de recursos nos ministérios do PMDB. Almeida é o mais contundente defensor de Renan. Ele também tentou unir essa representação -proposta pelo P-SOL - à que trata das rádios. O processo sobre a Schincariol também foi apresentado pelo P-SOL e está a cargo de João Pedro (PT-AM).

"É uma mudança de rumos importante no Conselho de Ética e no Senado", afirmou o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Péres foi sondado na noite de terça por Aloizio Mercadante (PT-SP). Disse que aceitaria somente se nenhum outro colega assumisse a tarefa. Quintanilha não encontrou outro integrante da base disposto a assumir a função.

O presidente do conselho disse que o cumprimento do prazo para entrega dos pareceres (2 de novembro) depende apenas dos relatores. A oposição anunciou disposição de fazer obstrução total no Senado (comissões e plenário) a partir dessa data, caso as representações não sejam levadas a plenário. A estratégia foi decidida em reunião de 19 senadores de seis partidos diferentes (PSDB, DEM, PMDB, PDT, PSB e PT).