Título: Bancos adaptam fórmula do varejo
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2007, Finanças, p. C1

A explosão do crédito imobiliário nos últimos três anos já começa a ter efeito nas estruturas do mercado. Com a abertura de capital das construtoras, a necessidade de recursos dessas empresas elevou fortemente a demanda por empréstimos nos bancos. Para ampliar mercado, os bancos começam a reforçar as parcerias como forma de garantir clientes.

Esse modelo de união dos bancos com as empresas do setor imobiliário se aproxima cada vez mais da estrutura adotada no varejo, diz o diretor-executivo do Banco Real, Felix Cardamone, em que os acordos permitem exclusividade na concessão de crédito para os clientes.

As construtoras precisam dos bancos para financiar as obras e os bancos ganham com o financiamento tanto da construção quanto dos imóveis para clientes que ficarão fidelizados por cerca de quinze anos, explica Cardamone. "O crédito também ajuda na venda dos imóveis", diz.

Hoje todos os grandes bancos operam usando essa fórmula. O HSBC, que há dez anos estruturou uma área para financiar apenas os empreendimentos, já iniciou operação com pessoas físicas e conta hoje com mais de 40 acordos. "Temos um vínculo muito forte com as construtoras", comemora o diretor do HSBC, Roberto Sampaio, citando a Cyrela, a Gafisa, a Rossi, a Tecnisa e a Tenda, entre outras.

Ele ressalta, no entanto, que o modelo de parcerias é o ideal para atuar nesse segmento, mas com acordos fechados por empreendimento. Ele explica que o mercado de financiamento imobiliário ainda está no início e os bancos não dispõem de produtos chamados de prateleira, ou seja, com estruturas fechadas tal como o crédito para veículo.

Além disso, os acordos ajudam os bancos a melhorar o atendimento ao cliente na hora de conceder os empréstimos. Isso porque as agências hoje não estão ainda totalmente preparadas para liberar este tipo de financiamento, um dos mais complexos.

Por isso, existe a necessidade de adequar as operações às peculiaridades da obra, como faixa de renda e prazo de financiamento. "Clientes de classe mais altas não querem empréstimos longos, então produtos de mais de 15 anos não agregam muito, por exemplo", explica Sampaio.

O superintendente do Santander, Mauro Costa, enfatiza que essas parcerias visam sempre a pessoa física. "As construtoras têm percebido que o papel de financiar é dos bancos".

O Unibanco também mantém parcerias com construtoras. Em alguns casos, o banco financia até 95% do valor do imóvel. Outro exemplo é o acordo com imobiliárias, como a Rodobens Negócios Imobiliários, desde 2004.

Apesar desse movimento, estima-se que cerca de 50% dos financiamentos das pessoas físicas ainda seja feitos pelas próprias construtoras e incorporadoras. O saldo de empréstimos concedidos pelos bancos superou os R$ 40 bilhões em agosto, segundo dados do Banco Central.

Segundo o diretor da construtora e incorporadora de imóveis Company, Luiz Rogélio, a explosão do setor só ocorreu por conta do acesso ao capital. "O crédito possibilitou que empresas médias mudassem de patamar", diz.

Segundo ele, um forte indicador desse avanço é o aumento do chamado VGV (valor geral de venda), que é o volume esperado de vendas com os lançamento previstos para o ano. Na Company, o VGV, em 2004, era de R$ 92 milhões. Neste ano, depois do IPO, pulou para R$ 1 bilhão.

O diretor do HSBC diz ainda que essa nova estrutura das empresas do setor exige um ciclo econômico menor. "As empresas fizeram IPO baseados numa expectativa de crescimento muito alta", afirma. Hoje existem 17 empresas com ações na bolsa e investidores (principalmente os estrangeiros) não vêem com bons olhos um ciclo de recebimento de quase cinco anos.

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