Título: Brasil participa de 10% do PIB de Angola
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 06/11/2007, Especial, p. A16

Na primeira metade dos anos 80 os brasileiros Valdomiro Minoru e Reinaldo Reis Vieira desembarcaram em Luanda, capital de Angola, com o objetivo de comandar a instalação na cidade do hipermercado Jumbo, marca que naquela época pertencia ao grupo Disco do Rio de Janeiro, hoje extinto. Angola era então assolada pela guerra civil iniciada em 1975, imediatamente após a libertação do domínio colonial português, que só terminaria em 2002. O Jumbo mudou de mãos, mas ainda é o maior supermercado de Luanda. E os executivos, que lá ficaram apesar da guerra, transformaram-se em dois dos maiores empresários do país, com atividades que vão da construção civil ao comércio varejista.

Não existem estatísticas exatas sobre a participação de brasileiros e de empresas brasileiras na economia angolana, mas a Associação de Empresários e Executivos Brasileiros em Angola (Aebran), fundada em 2003, calcula que é superior a US$ 5 bilhões, ou quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, que este ano deverá ficar próximo aos US$ 60 bilhões (US$ 63,7 bilhões é a previsão oficial do Ministério das Finanças angolano).

A linha de crédito aberta pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar a aquisição de bens e serviços de empresas brasileiras no processo de reconstrução da infra-estrutura angolana, destruída pela guerra, deverá fechar 2008 com US$ 2,2 bilhões contratados, contando com o novo aporte de US$ 1 bilhão anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na visita feita a Angola no dia 18 do mês passado. A Petrobras aplicou no ano passado US$ 520 milhões em bônus para aquisição de áreas exploratórias e vai gastar quase outros US$ 500 milhões na busca de óleo nessas áreas nos próximos anos.

A Petrobras está em Angola há 28 anos, mas só no ano passado decidiu tornar prioritários seus investimentos neste país pobre da África Subsaariana Ocidental de 1.246.700 quilômetros quadrados, praticamente a mesma do Pará, com reservas de petróleo comprovadas de quase 18 bilhões de barris, superiores às brasileiras (15 bilhões), e que deverá fechar este ano com produção diária próxima a 2 milhões de barris de óleo.

A verdadeira gigante brasileira em Angola é a Construtora Norberto Odebrecht. Há 25 anos no país, a empresa já participou e está participando de dezenas de obras públicas e privadas no país, começando pela construção da hidrelétrica de Capanda, de 520 megawatts. Para além do gigantismo da Odebrecht e de outras construtoras do primeiro time do Brasil, como a Camargo Corrêa e a Queiróz Galvão, e das pretensões da Petrobras, os brasileiros estão espalhados por praticamente toda a renascente economia angolana.

A embaixada do Brasil em Luanda estima que são cerca de dez mil brasileiros no país. Mas, segundo empresários brasileiros em Angola, computados os legais e os ilegais, o número não é inferior a 25 mil em uma população oficialmente estimada em cerca de 15 milhões de habitantes. É brasileiro o diretor-geral da maior operadora telefônica do país, a Unitel (celulares). Tem brasileiro também na cúpula da sua concorrente, a estatal Movicel.