Título: 2010: o ano do comércio
Autor: Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 13/01/2011, Economia, p. 16

Puxadas pela renda, vendas do varejo aumentam 1,1% em novembro, acumulando alta de 11% no ano. Crescimento é recorde

A disposição dos brasileiros em consumir está fazendo a festa do comércio varejista. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor apresentou crescimento de 1,1% no volume de vendas em novembro em relação ao mês anterior. Com esses números, o varejo completou sete meses consecutivos de taxas positivas. As vendas registraram alta de 9,9% na comparação com novembro de 2009 e de 11% no acumulado do ano. É a primeira vez que o desempenho anual pode ultrapassar dois dígitos.

Entre os itens mais procurados pelos consumidores estão os móveis e os eletrodomésticos. As vendas cresceram 2,4% entre outubro e novembro. A secretária Angela Ferreira Ponte, 31 anos, visitou as lojas ontem à procura de um ar-condicionado. No início do mês, ela comprou uma televisão de mais de R$ 1 mil, em 10 parcelas. ¿Os preços estão mais acessíveis. Agora, quero pagar até R$ 800 no novo aparelho. Ao longo do ano, vou trocar os móveis da casa¿, planeja Angela.

Técnico da Pesquisa Mensal de Comércio do IBGE, Nilo Lopes atribuiu o crescimento nas vendas ao bom desempenho econômico vivido pelo Brasil ao longo do ano. ¿Temos condições favoráveis. A renda do trabalhador melhorou, os importados estão mais baratos e o brasileiro está otimista em relação ao futuro¿, avaliou. O economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) Fábio Bentes calculou que, em 2011, as vendas vão crescer 8,3%, quase dois pontos percentuais a menos que em 2010. ¿Quando os dados forem fechados, veremos que o ano de 2010 será o melhor da década para o setor. Mas, no ano que vem, a economia vai estar menos aquecida e a oferta do crédito, menor. De qualquer forma, será um bom resultado¿, afirmou Bentes.

A dona de casa Fernanda Maria de Vasconcelos Calixto, 48 anos, pretende engordar as estatísticas neste ano. Ontem, ela saiu de casa para pesquisar os preços de um guarda-roupa, pelo qual quer desembolsar até R$ 600. ¿Vou comprar porque preciso trocar esse móvel em casa. Não fosse isso, economizaria. Vou parcelar sem juros, pois as taxas são altas demais¿, disse.

À vista O servidor público aposentado Walmir Alves dos Santos, 58 anos, está bem disposto para consumir. Ele guardou R$ 2 mil do 13º salário para comprar uma geladeira. Há dois meses, levou para casa um aparelho de som no valor de R$ 2 mil, divididos em 10 parcelas. ¿Estamos aproveitando os preços para renovar a casa. Agora, quero comprar à vista, pois já tenho muitos compromissos pela frente¿, observou.

Além de eletrodomésticos e móveis, que tiveram a terceira maior elevação no volume de vendas, sete de 10 atividades obtiveram variações positivas em relação a outubro. As principais foram equipamentos e material para escritório, informática e comunicação; livros, jornais, revistas e papelaria; artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos; material de construção; outros artigos de uso pessoal e doméstico; veículos e motos, partes e peças; e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo. Por outro lado, caíram as vendas de tecidos, vestuário e calçados e de combustíveis e lubrificantes. ¿Com o aumento no preço do álcool e da gasolina, muitos deixaram o carro mais tempo na garagem¿, explicou Nilo Lopes, do IBGE.

PIB caminha para os 5%

Luiz Carlos Azedo Victor Martins

Mesmo com toda a robustez demonstrada pelo varejo ¿ graças ao aumento do poder de compra dos consumidores ¿, o ritmo de crescimento da economia está perdendo fôlego. Foi o que constatou o Banco Central. Pelas suas contas, a atividade registrou expansão de 0,42% em novembro ante o mês anterior, quando o salto havia sido de 0,51%. Foi a primeira desaceleração do Índice de Atividade Econômica do BC, o IBC-Br, na comparação mensal desde maio.

No acumulado de 12 meses, o avanço chegou a 8,33%, resultado que, na avaliação dos especialistas, reforça a necessidade de o Comitê de Política Monetária (Copom), com reunião marcada para a próxima semana, elevar a taxa básica de juros (Selic) em pelo menos 0,5 ponto percentual, dos atuais 10,75% para 11,25% ao ano. ¿O ritmo menor de crescimento em novembro ainda não foi suficiente para pôr fim ao superaquecimento da atividade, que pressiona a inflação¿, explicou um técnico do BC.

Apontado como uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), o IBC-Br é acompanhado de perto pelos integrantes do Copom, pois sinaliza como está o comportamento da economia. Nas projeções do governo, não há motivo para apreensão. Com a atividade perdendo força, o PIB fechará 2011 com aumento próximo de 5%, ritmo que deverá ser mantido pelos próximos anos, graças à ampliação dos investimentos públicos e privados. São esses investimentos, segundo análises feitas pela presidente Dilma Rousseff com sua equipe econômica, que permitirão o controle mais eficaz da inflação e, mais à frente, abrirão espaço para a queda dos juros.

O diagnóstico do governo é o de que, com os investimentos, será preciso correr com o processo de qualificação da mão de obra, cuja escassez surge no horizonte como um dos principais entraves para o crescimento sustentado. Dilma também vem ressaltando a necessidade de agregar valor aos produtos brasileiros, por meio da inovação tecnológica. Dois setores, que, por vários anos, ficaram sem investir em pesquisa e desenvolvimento, são apontados como modelo a ser seguido: o naval e o siderúrgico, que estavam sucateados.