Título: BNDES avalia futuro de programa para apoiar setor de TI
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 09/08/2007, Empresas, p. B3

O empresário da área de informática que for hoje ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em busca de recursos para financiar sua empresa vai encontrar as portas fechadas. No último dia 31, acabou a validade do Programa para o Desenvolvimento da Indústria Nacional de Software e Serviços Correlatos, o Prosoft, que financia empresas de tecnologia, projetos de aquisição e de exportação de software.

Na próxima semana, a diretoria do BNDES deve se reunir para discutir projetos gerais do banco. O Prosoft ainda não está na pauta, mas os responsáveis pelo programa correm para fazer com que uma nova versão da iniciativa seja liberada nos próximo dias.

Segundo Mauricio Neves, chefe do departamento de indústria eletrônica do BNDES, um comitê de crédito já aprovou a renovação do Prosoft, que foi totalmente modificado. É preciso, porém, que a diretoria geral delibere sobre o tema. "Nada está definido, mas a expectativa geral é positiva", diz Neves.

O Prosoft completa dez anos. Formulado em 1997, só começou a operar dois anos depois. Hoje, o programa do BNDES é visto como o principal instrumento do governo federal para financiar empresas de informática, nacionais ou estrangeiras. Até 2004, o Prosoft oferecia apenas linhas de financiamento a juros baixos. Uma série de burocracias, porém, inibia o interesse do mercado. Depois de cinco anos de atividade, apenas 28 empresas usaram seus recursos, um total de R$ 58,4 milhões.

Em 2004, com a criação da política industrial, tecnológica e de comércio exterior (Pitce) - que deu prioridade ao mercado de software -, o programa foi reformulado e ganhou três divisões: uma para financiar o crescimento das empresas de informática (Prosoft Empresa); outra para empresários em busca de dinheiro para comprar produtos de TI (Prosoft Comercialização); e uma terceira para companhias voltadas à exportação.

As mudanças deram resultado. Entre março de 2004 e julho passado, o programa movimentou R$ 773 milhões. O Prosoft Empresa totalizou R$ 521,8 milhões, atraindo 37 companhias. Na linha Comercialização o banco movimentou R$ 33,8 milhões, atingindo 88 companhias. Em Exportação, porém, o resultado foi pífio: apenas duas empresas - uma delas a IBM - foram atendidas, com um total de R$ 218 milhões. "A área de exportação realmente foi frustrante", comenta o presidente do conselho da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), Jorge Sukarie. "Está claro que o dinheiro não está chegando às pequenas e médias empresas do setor."

O Brasil tem hoje cerca de 7,7 mil empresas de software, segundo a Abes. Destas, 93% têm menos de 50 funcionários e faturam menos de R$ 2 milhões por ano. Segundo Mauricio Neves, do BNDES, o programa não tem privilegiado grandes companhias. "Há espaço para pequenas e médias empresas. O setor tem sido atendido."

Até o fim de julho, o empresário interessado no Prosoft tinha que enviar um plano de negócios para o banco avaliar. O recurso mínimo oferecido pela entidade era de R$ 400 mil. Com o plano aprovado, o empresário podia usar o recurso ao longo de dois anos, um prazo de carência. Depois, passava a amortizar o contrato, com um prazo flexível, conforme o seu fluxo de caixa.

Segundo Neves, o Prosoft dá lucro ao BNDES. Por isso, há uma grande chance de o programa ser mantido e voltar à carga em breve. Nos últimos três anos, o programa mudou a percepção da diretoria do banco com relação ao mercado de TI. Da simples oferta de empréstimo, o BNDES passou a atuar também como empresa de capital de risco, comprando participação em empresas por meio de sua divisão BNDESPar. "Hoje 20% das nossas operações na área de tecnologia estão ligadas a participação acionária", diz Neves. São cerca de oito companhias, entre elas a Totvs, que abriu o capital no início de 2006; e a Senior Sistemas, companhia que também caminha para a bolsa.

Neves não dá detalhes, mas diz que, se aprovado, o Prosoft trará aprimoramentos. Tudo indica que o novo pacote do BNDES irá atacar, principalmente, as empresas voltadas para exportação, que praticamente ficaram de fora dos financiamentos. A principal barreira do Prosoft Exportação reside no fato de que a empresa interessada não negocia diretamente com a instituição. Ao contrário do que acontece com o Prosoft Empresas - em que o contato é feito diretamente com o BNDES - as companhias que buscam dinheiro para exportar têm que procurar um banco no mercado homologado pela instituição, que, a partir daí, aprovará ou não o contrato. A IBM, por exemplo, conseguiu US$ 100 milhões por meio do Santander, que intermediou a negociação.

A brasileira CPM - hoje CPM Braxis - chegou a ter aprovado um financiamento para ampliar seus serviços de informática fora do país. A burocracia, no entanto, levou a companhia a desistir do recurso. Essa situação é ainda mais complexa quando se trata de empresas de pequeno porte. Como as garantias que uma companhia de software oferece na hora de pedir financiamento são praticamente as suas linhas de código, acabam enfrentando dificuldades. A expectativa é que o novo Prosoft, se aprovado, estabeleça um canal direto entre BNDES e empresa.

"O Prosoft é vital para o futuro do setor. Não dá para ficar sem a atuação do BNDES", diz Antonio Carlos Rego Gil, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software e Serviços para Exportação (Brasscom). Tem a mesma opinião Marco Stefanini, presidente da consultoria Stefanini IT Solutions. "Já contei com recursos do Prosoft uma vez", comenta. "Voltaria a procurá-los, se fosse preciso."

Em junho, o Prosoft liberou recursos para um de seus últimos clientes: a Contax, empresa de telemarketing controlada pelo mesmo grupo que controla a Oi, que faturou mais de R$ 1,3 bilhão em 2006, segundo a Callcenter.inf. O contrato foi fechado em R$ 216,5 milhões. A operação tem prazo total de seis anos, incluindo carência de dois anos, e um custo de Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), em 6,5%, mais 3% ao ano.