Título: Do telefone fixo ao 4G
Autor: BRAGA, GUSTAVO HENRIQUE
Fonte: Correio Braziliense, 01/01/2011, Economia, p. 11

Em 20 anos, o Brasil deixa a era em que a linha era considerada patrimônio e prepara-se para o tempo das videochamadas no celular

De artigo de luxo a item essencial para a vida moderna. Nesta semana, o uso do telefone celular no Brasil completou 20 anos. Ao longo das últimas duas décadas, o aparelho provocou uma revolução na forma como as pessoas trocam informações, seja no trabalho ou na vida privada. Hoje, o país conta com cerca de 198 milhões de telefones móveis, número superior ao de habitantes: 192 milhões. O grande boom ocorreu a partir de 2008, época da privatização do setor. Foram os investimentos realizados pelas operadoras, com a ampliação da rede, que levaram o serviço a se tornar acessível à população. Logo, vieram melhorias na cobertura e na qualidade do sinal para suprir toda a demanda dos consumidores.

Quando o celular chegou ao Brasil, telefone era considerado um patrimônio. As pessoas o declaravam no Imposto de Renda e o negociavam como se faz com veículos atualmente. Após a privatização, aquela realidade mudou. Ter um celular se tornou tão fácil que muita gente tem mais de um aparelho. O vendedor David Leite Roberto, 25 anos, por exemplo, usa nada menos que quatro linhas móveis para se comunicar, todas pré-pagas. O aparente excesso esconde, na verdade, uma estratégia para economizar.

David usa um chip de cada uma das principais operadoras em atuação no país. Desta forma, sempre que vai telefonar, aproveita a promoção mais vantajosa ao tipo de chamada que será feita. ¿Não fossem as promoções, eu gastaria cerca de R$ 480 por mês. Como aproveito os bônus de cada operadora, no fim das contas minha despesa cai para aproximadamente R$ 280¿, revela o vendedor. Além de ser encontrado em qualquer lugar por familiares e amigos, aproveita as facilidades do telefone móvel para potencializar os negócios com os clientes.

Smartphone

O corretor de imóveis Fred Melo, 31 anos, garante já ter concretizado a venda de apartamentos graças ao celular. ¿As vantagens são muitas. Certa vez, um cliente estava a caminho para ver uma unidade à venda, mas não conseguia encontrar o endereço. Acessei do meu smartphone um aplicativo que mostra a localização da pessoa e, do próprio telefone, postei o mapa no Facebook. Foi tiro e queda, o cliente achou o lugar e fechamos o negócio¿, recorda. Além do aparelho com internet móvel, Fred tem ainda um celular que permite comunicação ilimitada via rádio, para economizar quando se comunica com o chefe e colegas de trabalho.

José Roberto Mavigner, gerente de pesquisa da Frost & Sullivan na América Latina, reconhece os avanços advindos da privatização do setor, mas defende que ainda há muito a ser feito. Na avaliação dele, apesar de a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) divulgar que o país tem mais celulares que habitantes, a cobertura do serviço de telefonia móvel ainda é um sonho distante para uma parcela significativa da população. Distorções

O motivo é que a base de dados fornecida pelas operadoras ¿ e usada pela Anatel ¿ traz diversas distorções. ¿Não dá para saber, por exemplo, quantos desses aparelhos estão com o serviço ativo. Além disso, muitas pessoas têm mais de um aparelho, então não dá para dizer que cada habitante tem um celular. É uma estatística burra¿, critica Mavigner. Outro desafio enfrentado pelas companhias do setor para os próximos anos é o de agregar valor ao serviço de transmissão de dados, especialmente com uso da tecnologia de banda larga móvel de terceira geração (3G).

Dados da Frost & Sullivan apontam que o brasileiro gastou, em 2010, em média, R$ 24,66, por mês, com chamadas de celular. O cálculo elimina o montante destinado aos impostos embutidos nas tarifas de telefonia, que representa cerca de 45% do custo a cada consumidor. Em 2007, o valor médio foi de R$ 27,07. ¿A queda pode ser entendida pela própria característica do consumidor brasileiro. A maior base dos celulares são pré-pagos, e as pessoas usam mais para receber do que para fazer ligações¿, analisa José Roberto Mavigner.

Para se ter uma ideia, 82% dos celulares no Brasil são pré-pagos. As amigas Ana Paula Lima, 38 anos, e Marta Imperial, 46, integram o grupo dos 18% restantes, com planos pós-pagos. ¿O celular facilita muito a vida da gente. Trabalho em uma chapada, de onde a única forma de contato com clientes e funcionários é por meio do telefone móvel¿, comenta Marta. ¿Hoje em dia o telefone fixo está obsoleto. Sempre ando com o meu e, se acabar a bateria, tenho outro aparelho reserva. Assim, consigo sempre manter contato com a minha filha de 10 anos, Maria Fernanda, onde quer que ela esteja¿, emenda Ana Paula.

João Truran, diretor regional da Vivo no Centro-Oeste, afirma que os esforços da operadora nos próximos anos se concentrarão em duas frentes: ampliar a capacidade de cobertura e desenvolver novos serviços no segmento de banda larga 3G. ¿A internet móvel representou uma revolução para o setor. Cada vez mais as empresas vão investir em serviços ligados à web¿, sugere. Já o diretor de consumer (consumidor) da Tim, Eduardo Rossi, está otimista em relação à chegada do 4G, que segundo ele, representará uma nova revolução da telefonia móvel. ¿O 4G permitirá o aprimoramento de novos serviços, como as de videochamadas¿, diz.

Estima-se que, em 2014, cerca de 45% dos celulares vendidos serão smartphones, contra 15%, em 2010. Além disso, há grande expectativa quanto à popularização dos tablets, categoria de produto que também usa a internet móvel. Projeções da Qualcomm, empresa desenvolvedora de plataformas para transmissão de dados móveis, mostram que, até 2014, o Brasil pulará de 19 milhões para 107 milhões de assinantes de serviços 3G, uma expansão de 567%, contra 467% na média da América Latina.