Título: AES pensa em projetos após reestruturação
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2006, Empresas, p. B6

Eduardo Bernini, presidente da holding Brasiliana, assegura que AES Sul continuará como uma operação à parte

Eduardo José Bernini, o presidente da hoje Companhia Brasiliana de Energia, a holding que controla a distribuidora do insumo AES Eletropaulo e as geradoras AES Uruguaiana e AES Tietê, não vai esquecer tão cedo 2006. Afinal, o grupo passou por um duro processo de reestruturação, marcado por pagamento de dívidas, emissão de ações, incorporações entre subsidiárias e até mudança de razão social, culminando inclusive com a decisão de manter independente das operações da holding a distribuidora gaúcha AES Sul.

Com a lição de casa feita, Bernini já admite que é hora de olhar o futuro. E assegura que o próximo ano será marcado por uma criteriosa análise de projetos que poderão fazer com que o grupo americano AES volte a investir no país. "Qualquer decisão será tomada a partir de 2008", diz o executivo. Atualmente, a multinacional detém 50,01% da holding Brasiliana, que ainda tem como sócio o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com 49,99%.

Em outros projetos, a companhia poderá investir algo como US$ 60 milhões para arrematar um conjunto de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), que tenham capacidade de 60 megawatts (MW) fora do Estado de São Paulo. Em território paulista, diz Eduardo Bernini, a disponibilidade de PCHs é pequena.

O fundamental neste período de análise será justamente o potencial de novos investimentos em geração. O presidente da holding evita os detalhes, mas adianta que a meta é empreendimentos de médias hidrelétricas, cuja potência varie entre 250 MW e 500 MW. E a justificativa é simples. "Têm boa rentabilidade, são mais rápidos na construção e praticamente o contrato com os clientes já sai amarrado no início do projeto", afirma o executivo.

Para o mercado, as novas investidas da corporação fazem sentido. Tanto que Pedro Batista, analista de Energia do banco UBS Pactual, explica que a baixa alavancagem atual da AES Tietê, cuja relação entre dívida líquida e geração de caixa não supera 0,5 vezes, a torna capaz de buscar recursos para a expansão. "Além disso, este ativo pode ser usado como plataforma de crescimento", avalia Batista.

Contudo, tanto o analista do UBS, como também outros profissionais do setor, como Cristina Garcia, analista de Energia da Lopes Filho, afirmam que planos futuros só começaram a ser discutidos na Brasiliana, porque o processo de reestruturação teve sucesso. "De fato, o grupo entra 2007 com menor endividamento e passivo mais alongado", afirma Cristina.

Para chegar ao nível atual, o presidente da Brasiliana conta que foi preciso tomar uma série de atitudes até para aproveitar as boas condições do mercado de capitais. A primeira delas foi fazer uma emissão secundária de ações da Transgás, cujos recursos foram usados para pagar antecipadamente a dívida com o BNDES. Depois, deu-se início a um processo de incorporação da antiga Brasiliana de Energia pela Transgás, que depois foi incorporada pela Energia Paulista e que, por fim, foi jogada em baixo de uma nova empresa, chamada de Companhia Brasiliana de Energia.

Mas todo esse movimento, explica o executivo, foi feito em paralelo às negociações da dívida. No caso da AES Eletropaulo, por exemplo, o prazo de quitação dos R$ 4,8 bilhões foi alongado de três para seis anos. E a nova Brasiliana passou a dever R$ 800 milhões, que vencem a partir de 2014.

No entanto, tanto as negociações da dívida, como as incorporações ocorreram simultaneamente a uma pulverização de boa parte de seus papéis. O resultado é que atualmente 52% das ações da Eletropaulo estão no mercado de capitais, enquanto que 48% da Tietê foram para a bolsa.

Mas a AES Tietê ainda terá um senão pela frente. À época da privatização, em 1999, o governo paulista colocou uma cláusula no contrato de concessão que obriga os controladores da Tietê a uma ampliação de 15% do seu parque gerador até 2008. A empresa possui 10 usinas, cuja potência instalada é de 2,65 mil MW. Esta mesma prerrogativa também vale para a americana Duke Energy, que arrematou o que era a CESP Paranapanema, um complexo de oito usinas capaz de gerar 2,2 mil megawatts (MW) no mesmo ano.

O presidente da Brasiliana reconhece a validade da cláusula. Mas ressalta que não há potencial hídrico em São Paulo e gás disponível que permitam a ampliação. A empresa pleiteia que essa obrigação fuja da restrição às fronteiras estaduais e permita investimentos em outras partes do Brasil. Essa idéia foi transformada em uma consulta à Secretaria de Energia paulista, que a encaminhou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Os recursos da Brasiliana e da Duke estão em análise e não há definição alguma.