Título: Construtoras apostam em edifícios ecológicos
Autor: Mattos, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2007, Caderno Especial, p. F8

As empresas estão empenhadas em expandir projetos focados na chamada "construção sustentável". Esse movimento ganhou força nos últimos anos, tem apoio das principais entidades privadas do setor e já resulta em ganhos para as empresas. A idéia principal é minimizar o uso de insumos e, ao mesmo tempo, ampliar a utilização de material renovável ou reciclável nas edificações.

O interesse no desenvolvimento sustentável, tanto por parte de construtoras como de grandes empresas de diferentes setores, ampliou-se após recentes debates sobre o risco de esgotamento dos recursos naturais. Montadoras de automóveis, redes varejistas, indústrias farmacêuticas e outros segmentos que investem em grandes fábricas ou lojas, passaram a contratar empreiteiras e escritórios de arquitetura envolvidos num planejamento responsável.

Há dois anos, a empresa Esfera Empreendimentos criou um projeto batizado de Ecolife, em que prédios são planejados para que os recursos naturais sejam otimizados, refletindo uma redução da taxa de condomínio em até 30%. Nesses edifícios há, por exemplo, sensores de presença, tecnologia para o reuso da água, churrasqueira ecológica (não produz fuligem e não consome carvão vegetal) e medidores individuais de gás e água - para incentivar o controle dos recursos por apartamento. A empresa também utiliza nos edifícios placas de captação de energia solar. Essa energia é armazenada em baterias e utilizada pelo condomínio em algumas áreas comuns, economizando eletricidade e reduzindo os gastos com o condomínio.

Em dois anos, de 2005 a 2007, a Esfera lançou quatro unidades do Ecolife em diferentes bairros de São Paulo e em Campinas (SP), com faixa de preços entre R$ 150.000,00 a R$ 300.000,00 por unidade. Até 2009, outros quatro novos edifícios devem ser lançados dentro dessa proposta.

Maior rede varejista do país, o grupo Pão de Açúcar cresceu veloz-mente na última década e esse crescimento precisou ser realizado por meio de controles dos efeitos nocivos ao meio ambiente, segundo a empresa. A preocupação ambiental na companhia se dá, por exemplo, por meio da seleção dos materiais utilizados na construção de suas lojas e pela definição de programas de ecoeficiência, passando pelo processo de descarte dos produtos, através de postos para coleta de materiais recicláveis. "A idéia do grupo é envolver toda a comunidade nesse processo, por meio de ações simples. Nesse contexto, as ações de reciclagem, por exemplo, são emblemáticas porque transformamos o estado bruto dos resíduos, ou seja lixo, em ferramenta de inclusão social e preservação do meio ambiente", diz Claudia Pagnano, diretora executiva do grupo Pão de Açúcar.

A aprovação do projeto de construção das unidades de supermercado e hipermercados do grupo contempla um estudo interno em que são avaliadas possibilidades para se reduzir o impacto da operação sobre o meio ambiente. A empresa, por exemplo, dá preferência à utilização da iluminação zenital nas lojas. Esse tipo de luz "inteligente" consegue ser igualmente distribuída sob o terreno e na quantidade ideal, gerando uma economia de energia. Além disso, nos últimos anos, a rede varejista passou a investir em equipamentos para a captação de águas pluviais - o que contribui para a redução de alagamentos e danos provocados pelas chuvas.

Em linha geral, as grandes construtoras como Camargo Corrêa e Cyrela já adotam práticas responsáveis no campo ambiental há anos. O mais recente passo da Camargo Corrêa nesse sentido está sendo dado agora. Em parceria com a americana Tishman Speyer, a área de desenvolvimento imobiliário da empresa decidiu lançar um complexo de escritórios de alto padrão com o selo green building (prédio verde). Uma unidade do edifício já foi lançada em 2006 e outra deve começar a ser erguida nos próximos meses. A certificação é concedida pelo U.S. Green Building Council, dos EUA. Para obter esse selo, o empreendimento é obrigado a seguir certas normas de construção como, por exemplo, a criação de um plano de controle da destinação de lixo/entulho, reciclagem de materiais e retenção e reuso das águas pluviais.

"O diferencial desse empreendimento é a sua modernidade. Nele, encontraremos tecnologia de última geração, com baixos custos de operação", completa Roberto Perroni, diretor superintendente da Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário.

Empresas de médio porte seguem caminhos semelhantes. A construtora A.Yoshii Engenharia, com forte operação no Sul do país, usa esquadrias em suas construções que permitam maior iluminação natural. Optou pela medição individual de água e gás nos prédios, o que resulta em utilização mais controlada desses recursos. Além disso, os sensores de presença em área de circulação, a captação e armazenagem de águas da chuva e o sistema de aquecimento solar promovem o uso racional dos recursos naturais. Segundo o diretor da companhia, Leonardo Yoshii, a empresa só utiliza madeira certificada ou de reflorestamento, e faz a rastreabilidade do entulho.

O setor da construção civil é responsável pelo consumo da maior parte da madeira nativa produzida no Brasil. A construção civil consome cerca de dois terços da madeira natural do país. Em 2006, pesquisa realizada pela American Society of Civil Engineers (ASCE), nos EUA, informa que a questão ambiental é uma das maiores preocupações dos empresários do setor de construção no mundo, ocupando o segundo lugar no ranking geral. Segundo a associação, a construção civil é responsável por entre 15% e 50% do consumo dos recursos naturais extraídos do planeta.

No Brasil o consumo de agregados naturais na produção de concreto e argamassas é de 220 milhões de toneladas ao ano. O volume de entulho de construção e demolição gerado é até duas vezes maior que o volume de lixo sólido urbano.