Título: Fundos de private equity procuram executivos financeiros
Autor: Campos, Stela e Facchini, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2007, EU & Investimentos, p. D6

O crescimento do setor de private equity, que este ano deve dobrar de tamanho e movimentar US$ 2,2 bilhões no país, aquece a disputa por executivos financeiros. As oportunidades estão dentro dos próprios fundos, onde a guerra por talentos já significa salários 30% superiores aos oferecidos há um ano, e também dentro das companhias adquiridas. Os fundos de private equity compram ações de empresas com potencial de valorização para vendê-las depois de cinco ou oito anos, seja por meio da abertura do capital, na Bolsa de Valores, ou para um operador estratégico (uma empresa do mesmo ramo de atuação).

A briga por executivos para atuar na indústria de private equity atinge diretamente os bancos de investimentos, setor em que a caça pelos melhores profissionais também já é grande neste momento. "Está difícil encontrar gente porque os bancos também estão pagando salários mais altos", diz Marcelo Cardoso, presidente da consultoria DBM. "Todo mundo está atrás do mesmo talento", diz Fernando Carneiro, presidente no Brasil da SpenceStuart, uma das maiores empresas de seleção de executivos do mundo.

O movimento envolve tanto fundos internacionais, que passaram a buscar oportunidades de investimento no Brasil com a melhora na classificação de risco do país, e também os formados por investidores nacionais. Via de regra, eles atuam com equipes enxutas e, por isso, contar com os melhores profissionais é fundamental para o sucesso das operações. "A competição no Brasil agora é pelas boas oportunidades de negócio e eles precisam de gente qualificada para encontrá-las", diz Fátima Zorzato, presidente da Russell Reynolds, outra grande empresa de seleção de executivos.

"A indústria de fundos ainda é muito nova no país, por isso existe pouca gente especializada", diz Alberto Tamer Filho, diretor da Axial Consult, empresa que assessora fundos de private equity. A saída é pinçar talentos em outras indústrias. Quando o fundo é focado em um segmento fica mais fácil encontrar esses especialistas no mercado. "Tem sido difícil achar gente para trabalhar tanto no primeiro escalão como no segundo", diz.

Um diretor em um fundo de private equity no Brasil hoje recebe, em média, entre R$ 25 mil e R$ 35 mil por mês. Um "principal", entre R$ 25 mil e R$ 15 mil e os "associates", entre R$ 10 mil e R$ 15 mil mensais. Esses valores não incluem os bônus de curto prazo e a parte variável, que fazem uma enorme diferença, dependendo do porte do negócio.

"As melhores oportunidades estão concentradas nas empresas investidas e não nas gestoras de fundos", acredita Marcus Regueira, presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital. Ele refere-se ao aumento da procura pela figura do Chief Financial Officer (CFO), encarregado de estruturar as empresas portfólio, nas quais os fundos têm participação.

Sua missão, em muitos casos, é levar a empresa para um outro patamar. "O CFO entra para melhorar a estrutura de capital, fazer o alongamento de dívidas, estruturar questões administrativas e preparar a empresa para um M&A ou um IPO", diz Fernando Carneiro, da SpencerStuart. Segundo ele, o chamado Chief Operating Officer (COO), cuja missão é reorganizar as companhias, também está bastante procurado.

"O objetivo do fundo é sempre valorizar o capital do cotista", diz Antonio Kandir, do fundo Governança e Gestão Investimentos (GG Investimentos). Entre as empresas em que o fundo decidiu apostar estão a Companhia Açucareira Vale do Rosário, de Morro Agudo (SP), a Providência, indústria química sediada em São José dos Pinhais (PR), e a rede de supermercados Gimenes, de Sertãozinho (SP), que possui 27 lojas no interior do Estado.

O ex-ministro do Planejamento, na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, entre 1996 e 1998, diz que, em alguns casos, há um maior envolvimento do fundo na seleção dos diretores da empresa adquirida. "Mas eles não podem responder ao fundo de private equity e sim estar alinhados com o comando, a presidência executiva", diz. Segundo ele, o perfil para ocupar esses cargos varia muito conforme a estratégia de cada investimento.

Os executivos recrutados pelos fundos de private equity para atuar nas empresas que fazem parte de seus portfólios, no geral, recebem uma parte significativa de sua remuneração na forma de ações das companhias. "O executivo também compartilha do risco do investimento, assim como qualquer outro cotista do fundo", diz Jorge Maluf, sócio para a área de serviços financeiros da Korn Ferry International, empresa de seleção de executivos global. A questão, segundo ele, é que esses ganhos com as ações das companhias só aparecerão no longo prazo, após o período de maturação dos investimentos. "Os fundos tendem a manter-se no capital das empresas por cinco ou seis anos", explica. No fim desse período, o valor embolsado pelos administradores irá variar de acordo com o desempenho das companhias. "É sempre uma aposta", diz.