Título: 2009 é data limite para negociação pós-Kyoto
Autor: Chiaretti, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2007, Internacional, p. A14

A data limite para um documento internacional que suceda o Protocolo de Kyoto no combate às mudanças climáticas é 2009. A decisão foi tomada ontem por 45 diplomatas asiáticos e europeus reunidos na Alemanha. Na semana que vem, em Heiligendamm, acontece a reunião do G8+5, o encontro entre as sete nações mais ricas do mundo e a Rússia (os grandes poluidores do presente e passado), com os emergentes Brasil, China, Índia, África do Sul e México (os grandes poluidores do futuro).

"Definir 2009 como prazo é um passo importante", avalia Kiyo Akasaka, sub-secretário de comunicação da ONU, em visita ao Brasil esta semana. "2009 é um momento crítico neste processo. Os países teriam tempo para ratificar internamente o novo acordo". Akasaka conhece o assunto. Foi um dos negociadores de Kyoto, acordo que levou dois anos para ser desenhado e outros sete para entrar em vigor. Como a primeira fase de compromissos de Kyoto vai de 2008 a 2012 (estabelecendo aos países desenvolvidos cortes de emissão de gases do efeito-estufa), os negociadores têm que correr para não deixar lapsos a partir de 2013.

A Alemanha, que preside a União Européia, quer costurar algo com o mundo oriental para pressionar o presidente dos EUA, George Bush, a agir em relação às emissões dos gases-estufa e evitar que o encontro do G8+5 fracasse.

Os EUA não ratificaram o protocolo de Kyoto. O governo Bush argumenta que o acordo prejudicaria a economia americana e é injusto, já que poluidores como China e Índia não têm de se submeter às mesmas regras. Os demais dizem que não é justo cobrar a conta inteira a quem só chegou ao jantar na hora do cafezinho - os países industrializados poluem há mais de 100 anos. O impasse é antigo.

Sobre a mesa das negociações há algumas propostas e muita incerteza. Brasil e Japão concordam com que o novo pacto tem de ser flexível, promover crescimento econômico e proteção ambiental, e estimular novas tecnologias verdes. O Japão quer que os países ricos cortem suas emissões pela metade até 2050. O Brasil quer incentivos para evitar o desmatamento.

O próprio formato do acordo que sucederá Kyoto é uma incógnita. Pode ser uma adaptação do Protocolo, com novas metas e talvez novos atores, o que facilitaria a aprovação. Ou um acordo totalmente novo, o que pode agradar renitentes como EUA e Austrália.

Após o alarme dado pelo painel científico da ONU, o IPCC, ficou claro que o aquecimento global tem que ser contido. Novas idéias têm surgido, além das metas de cortes de emissão. Ampliar o comércio de carbono é uma delas, e agrada a empresários; taxar emissões de carros e indústrias é a fórmula defendida por economistas.

Akasaka aposta numa arquitetura mista. Governos definiriam políticas e medidas (talvez até taxar emissões) e indústrias buscariam tecnologias verdes. "Pode levar um tempo para se chegar a este novo regime, mas sou otimista."