Título: Ações caem mas retorno deve ser pouco afetado
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2006, Finanças, p. C8

As ações de bancos fecharam em baixa, quarta-feira, sob o impacto das medidas de redução do spread e aumento da competição bancária. A ação preferencial do Itaú caiu 2,26% para R$ 64,31; a do Bradesco, 1,69% para R$ 69,69; a unit do Unibanco, 2,13% para R$ 15,56; e a ordinária do Banco do Brasil, 0,89% para R$ 48,81. Os bancos explicam parte do recuo de 1,76% do índice Bovespa.

Apesar disso, vários analistas concordam que o impacto das medidas do Conselho Monetário Nacional (CMN) é limitado em seus objetivos e não deve comprometer seriamente o retorno dos bancos.

Segundo a analista Valerie Fry da Merrill Lynch, as medidas do CMN devem ter impacto limitado na redução do spread bancário e praticamente neutra na lucratividade do setor. Para ela, o efeito benéfico da criação do cadastro positivo de crédito na redução da inadimplência pode ser neutralizado pelo aumento da concorrência, causado pela facilitação da portabilidade do crédito, das contas-salário e dos cadastros.

Para a analista, os bancos continuarão tentando repassar aos tomadores os custos derivados do aumento da inadimplência. Mas, a melhoria da regulação do crédito e mais estímulo à competição podem levar à redução do spread.

O cadastro positivo, segundo Valerie, é a medida mais importante do pacote porque ataca diretamente a inadimplência, que tem um peso de quase 34% no spread bancário. Mas, vai levar tempo para ser implementado. Isso pode levar de seis meses a um ano, estimou a analista.

Após contato com a Serasa e a Central de Risco do Banco Central, Valerie concluiu que os birôs positivos não entrarão em funcionamento no curto prazo, levando de seis a doze meses. Segundo ela pesquisou, o sistema do BC tem como pontos fortes a cobertura de todo o sistema financeiro, informações detalhadas de cada contrato e credibilidade; como pontos fracos, dados apenas de instituições financeiras, informações defasadas vinculadas às datas de divulgação dos relatórios dos bancos e limitações tecnológicas.

A Serasa, controlada pelos bancos, tem como pontos fortes uma base de dados ampla, com cerca de 4 milhões de transações por dia, atualização tecnológica, fontes variadas e atualizadas de informação (bancos, varejo e empresas de serviços públicos). Mas, ela não cobriria todo o sistema financeiro, seus dados seriam menos detalhadas do que os do sistema do BC e teria um registro dependente do prazo dos contratos.

Relatório divulgado pelo Banco Pactual revela conclusões semelhantes. O Pactual chamou a atenção para o fato de a liberdade de escolha do banco para o recebimento da conta-salário prejudicar mais as empresas com grandes folhas do que os bancos. Nos últimos dois anos, relata, houve dois grandes leilões de folhas de pagamento: o Itaú pagou US$ 210 milhões pela folha da Prefeitura de São Paulo e o Santander, US$ 153 milhões pela folha dos funcionários públicos do Rio de Janeiro. Seriam penalizados apenas os bancos com maior quantidade de folha de pagamento em sua base de clientes. Mas, o analista do banco acredita que os clientes mais lucrativos - aqueles com salário até US$ 1 mil - são mais dependentes dos limites de crédito pessoal e têm pouco poder de barganha para mudar de banco.

Para o diretor da Fitch Rating, Rafael Guedes, o que realmente vai estimular o crédito será a consolidação de uma jurisprudência que confirme a eficácia da nova lei de falências, além do crescimento da economia e da renda. "O que faz as pessoas se endividarem é a perspectiva de ter renda no futuro", afirmou Guedes.

A Fitch divulgou, quarta-feira, relatório sobre a solidez dos bancos, que revelou a melhora da posição do Brasil. O estudo leva em conta a probabilidade de haver uma crise sistêmica nos países analisados e avalia como os bancos estão preparados para enfrentar essa eventualidade.

Segundo a Fitch, uma crise sistêmica pode ocorrer pelo crescimento acelerado do crédito, uma bolha especulativa de ativos ou desvio cambial grande. A reação dos bancos a esse tipo de problema varia conforme a qualidade da instituição.

No estudo da Fitch, 41 possuem bancos menos propensos e 40 mais sujeitos a crises bancárias sistêmicas. No estudo anterior, o Brasil fazia parte do segundo grupo e neste, 18 meses depois, subiu para o primeiro, na mesma categoria (C1) do Japão, Coréia do Sul e Malásia. Dos três fatores que podem afetar o ambiente brasileiro, o crédito deve merecer mais atenção, disse Guedes. O crédito já cresceu de 28,3% para 33% do PIB em cinco anos. Maior avanço, disse, deve ser acompanhado da expansão da economia e da renda.