Título: Analistas estimam aumento de 0,54% no IPCA-15, com menor pressão de alimentos
Autor: Martins, Arícia
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2013, Brasil, p. A2

A continuidade do movimento de perda de fôlego dos alimentos e o fim do impacto de reajustes de mensalidades escolares serão os principais pontos de alívio ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) de março, que deve ceder em relação à alta de 0,68% apurada em fevereiro, segundo economistas.

A média de 14 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta para avanço de 0,54% da prévia da inflação deste mês, com intervalo de estimativas entre 0,45% e 0,61%. O dado será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Se confirmadas as expectativas, o IPCA-15 acumulará aumento de 6,48% nos 12 meses encerrados em março, encostando no teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%. Essa aproximação, aliada às comunicações recentes da autoridade monetária, reforça apostas de que o BC terá de começar um ciclo de aperto monetário em breve, de acordo com analistas.

A desaceleração prevista de 1,74% para 1,3% do grupo alimentação e bebidas e uma variação próxima de zero da parte de educação, após salto de 5,49% no mês anterior, serão as maiores influências de baixa no IPCA-15 de março, diz Marcelo Arnosti, economista-chefe da BB-DTVM, que projeta alta de 0,51% para o indicador.

Arnosti destaca, porém, que a transmissão da deflação de produtos agropecuários do atacado para o varejo tem sido mais lenta que o esperado, porque itens in natura e mesmo alguns derivados têm mostrado resistência nas coletas de preços, mesmo com a queda apontada pelas carnes bovinas.

Segundo o economista, será difícil mensurar algum impacto da desoneração da cesta básica nos preços na primeira quinzena do mês, já que as carnes já vinham em tendência de retração. Anunciada em 8 de março, a isenção de impostos federais sobre os produtos que compõem a cesta deve ficar mais clara nos índices de inflação em abril, de acordo com Arnosti.

O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal, também espera alta menor, de 1,15%, para os alimentos no IPCA-15 de março, mas afirma que outras pressões devem despontar sobre o indicador, para o qual prevê aumento de 0,54%. Após ficar praticamente estável na leitura de fevereiro, com variação de 0,01%, Leal estima que o grupo vestuário subirá 0,65% na medição atual, puxado pelo fim de liquidações e pela entrada de novas coleções.

Ele pondera, no entanto, que essa parte da inflação tem fugido da sazonalidade este ano e, por isso, não descarta uma surpresa no resultado da prévia de março, observação também feita por Arnosti, que trabalha com avanço de 0,7% para os preços de vestuário no período. "Temos dúvidas em relação a essa projeção, mas, pelo comportamento sazonal, a tendência é que os preços acelerem um pouco mais entre o fim de março e o início de abril", diz.

Perto do piso das estimativas, Fabio Romão, da LCA Consultores, projeta que o IPCA-15 recuará para 0,49% neste mês, a despeito de esperar uma taxa ainda desconfortável, de 1,24%, para o grupo alimentação. Romão diz que sua previsão pode estar um pouco mais otimista em comparação à do mercado devido à deflação de 6,2% prevista para o item energia elétrica, ainda como reflexo do corte de 18% nas tarifas residenciais, depois da queda de 13,4% na prévia de fevereiro.

Caso os preços de energia cedam conforme o antecipado, o analista da LCA calcula que o impacto de baixa será de 0,2 ponto percentual no IPCA-15 de março, mais modesto do que o 0,45 ponto que a MP 579 "tirou" do índice anterior. Com a perda de ímpeto da retração nas contas de luz, diz Romão, o grupo habitação ainda deve mostrar queda de 0,95% na prévia deste mês, mas contribuirá para acelerar o IPCA-15, já que a deflação vista em fevereiro foi mais expressiva, de 2,17%.

Outro ponto de pressão sobre a prévia de março deve partir dos transportes, que haviam desacelerado para 0,46% em fevereiro.