Título: Analistas projetam avanço de 0,7% do PIB no 4º trimestre
Autor: Machado, Tainara; Martins, Arícia
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2013, Brasil, p. A4

Como o investimento mais uma vez não decolou, e a retomada do setor industrial segue frágil, economistas esperam que a atividade doméstica tenha mostrado apenas moderada aceleração no quarto trimestre do ano passado. Nos últimos três meses de 2012, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve ter avançado 0,7% em relação ao período imediatamente anterior, de acordo com a média das estimativas de 10 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data. Entre julho e setembro, o avanço, na mesma base de comparação, foi de 0,6%.

O gradual reaquecimento da economia observado nos últimos meses foi suficiente para garantir alta de apenas 0,9% do PIB em 2012, menor avanço desde 1999, quando a economia cresceu 0,3% (com exceção da recessão ocorrida em 2009, por causa da crise externa). O IBGE divulga amanhã as Contas Nacionais Trimestrais.

Para Fernando Genta, economista-chefe da MCM Consultores, a reação continua a ocorrer em ritmo mais gradual do que antecipado por causa da fraqueza da formação bruta de capital fixo, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e equipamentos e na construção civil. "A expectativa inicial era de avanço de cerca de 3% no quarto trimestre, mas agora projetamos queda de 0,2%", disse. A produção de máquinas e equipamentos, que recuou 2% em relação ao terceiro trimestre, foi o principal motivo para essa reavaliação, diz Genta.

A média das estimativas dos economistas consultados pelo Valor Data sugere que o investimento teve o sexto trimestre consecutivo de retração entre outubro e dezembro, com queda de 0,2%. Se confirmado esse resultado, o tombo em 2012 terá sido de 4,2%, maior queda desde 2003, com exceção de 2009. Para Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú, o problema é o elevado nível de incerteza em relação ao ritmo de expansão da economia doméstica.

Para Genta, da MCM, as medidas do governo de incentivo à compra de máquinas e equipamentos, como redução de juros em algumas linhas, levaram a forte aumento das aprovações de projetos pelo BNDES, mas há um intervalo até que os desembolsos aconteçam efetivamente. O economista afirma, no entanto, que os estímulos contribuíram para sustentar o consumo em patamar elevado. A projeção da MCM é de alta de 0,8% da demanda no quarto trimestre.

Segundo Fernanda Consorte, do Santander, o consumo não se acelerou em relação ao terceiro trimestre, mantendo alta de 0,9%, porque o cenário de crédito não mostrou melhora expressiva e o avanço do rendimento real dos trabalhadores perdeu fôlego no fim do ano, devido aos índices de inflação mais elevados. Mesmo assim, em sua avaliação, a demanda das famílias manteve um bom desempenho, sustentando, mais uma vez, o crescimento do PIB.

O setor externo, por outro lado, seguirá como contribuição negativa ao crescimento, segundo a analista do Santander. Após aumento de 0,2% das exportações de bens e serviços no terceiro trimestre, Fernanda estima avanço de 1,7% para os últimos três meses do ano, desempenho suficiente apenas para avanço nulo das vendas externas em 2012. "O cenário para as exportações é adverso, devido ao fraco crescimento da economia global", observa a analista, mesmo com um câmbio mais favorável. As importações, que recuaram 6,5% no trimestre anterior, devem subir 7,7% de outubro a dezembro.

Pelo lado da oferta, a indústria terá o segundo trimestre em campo positivo, embora tenha perdido força. A média das estimativas dos analistas é de alta de 0,4% no quarto trimestre, com ajuste sazonal, avanço inferior ao visto no terceiro trimestre, quando esse ramo de atividade cresceu 1,1%. Aurélio Bicalho, economista do Itaú, projeta expansão de 0,8% do setor no último trimestre de 2012, mesmo com a queda de 0,3% da produção no período. No PIB, a indústria engloba, além do setor manufatureiro e extrativo, a construção civil e a produção e distribuição de energia e gás. Por causa do uso intenso de termelétricas no período, houve maior necessidade de produção de gás, afirma o economista.

Fernanda, do Santander, também aposta em moderação no ritmo da indústria no fechamento de 2012, que, segundo seus cálculos, cresceu 0,6% no último trimestre. A produção de bens duráveis, de acordo com o IBGE, recuou 0,1% entre o terceiro e o quarto trimestres em termos dessazonalizados, após salto de 5% na comparação anterior. "Esperávamos que o ritmo da indústria se sustentasse, mas no terceiro trimestre a produção teve um impulso muito forte do IPI reduzido e isso se perdeu."

O maior impulso do lado da oferta virá, de novo, do setor de serviços, para o qual a média das projeções aponta expansão de 1%. Bicalho, do Itaú, espera aceleração desse ramo com base em indicadores, como a confiança dos empresários do ramo de serviços, que subiu 3,1% no trimestre. Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, projeta alta menor, de 0,7%, desse segmento no período. Para ela, o setor financeiro, que decepcionou no terceiro trimestre, manteve tendência de redução de juros e spreads entre outubro e dezembro, o que pode ter levado a nova queda do segmento.

Alessandra espera desaceleração da economia no último trimestre do ano passado, com alta de 0,5% no período. Para Alessandra, sem recuperação mais consistente da indústria e dos investimentos é difícil sustentar o ritmo de expansão.

Para 2013, no entanto, a economista espera que a qualidade do crescimento melhore, com avanço desses dois ramos. Ainda assim, como o carregamento estatístico será muito fraco, o país terá que crescer 1,1% por trimestre ao longo deste ano para fechar 2013 com avanço de 3,2%.