Título: Alianças de 2014 movem sucessão de Jefferson no PTB
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2013, Política, p. A10

A expectativa de que o presidente nacional licenciado do PTB, Roberto Jefferson, deixe o cargo neste ano abriu no partido uma movimentação para sucedê-lo, permeada por todas as nuances das eleições de 2014.

O mandato de Jefferson só termina em 2015. Entretanto, dentro da legenda, é tido como certo que ele deixará o posto após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão transitar em julgado. Jefferson foi condenado a 7 anos e 14 dias de reclusão, em regime semiaberto. Em razão disso, quatro nomes são apontados como interessados em ocupar seu lugar. E, a depender daquele que prosperar, o caminho do partido em 2014 pode estar selado.

O senador Gim Argello (DF) é o que está à frente dessa movimentação. É também o mais governista deles e atua para levar a sigla à chapa da reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). Aposta sobretudo nos seus relacionamentos em Brasília para chegar ao maior cargo do PTB. Principalmente no Senado, onde é muito próximo do presidente Renan Calheiros (PMDB-AL). Fora dali, sua referência é o governador Agnelo Queiroz (PT), que apoia sua pretensão de ser eleito senador em troca do apoio do partido à sua reeleição.

Internamente, Argello tem questionado a legalidade da permanência no cargo do presidente interino, Benito Gama, e tentado montar alianças internas para que ocorra uma nova convenção. A última, que reconduziu Jefferson, foi em julho, ocasião em que foram alterados trechos do estatuto. Antes, qualquer cargo vago precisava ser preenchido por meio de novas eleições. Agora, assume o substituto direto. Para Argello, essa mudança padece de legalidade.

Já interlocutores do senador Armando Monteiro Neto (PE) garantem que ele avalia a possibilidade de presidir a sigla com o intuito de que o PTB esteja junto em 2014 da candidatura de Eduardo Campos (PSB), atual governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB. Ele nega: "Não estou fazendo nenhum tipo de contato nessa direção". Afirma, porém, ter planos para elaborar uma reformulação da legenda. "Precisamos atualizar o programa. O PTB carrega a bandeira histórica do trabalhismo, mas hoje a relação entre capital e trabalho mudou, não é mais antagônica. A CLT precisa ser modernizada, é preciso pensar em um novo trabalhismo", disse.

Por fim, surgem outros dois nomes, mais ligados à oposição. O do próprio Benito Gama e o do presidente do diretório regional de São Paulo, deputado estadual Campos Machado (SP). O paulista declara não ter ligações com o PSDB, "apenas com [o governador tucano de São Paulo] Geraldo Alckmin" e que é uma "hipocrisia e leviandade" discutir a sucessão de Jefferson neste momento em que ele passa por tratamento quimioterápico, razão, inclusive, de sua licença.

Gama, ex-deputado pelo antigo PFL baiano, garante que o novo estatuto concede a ele o direito de ficar no posto até 2015: "Até pode haver convocação por um terço do partido, mas precisaria de um motivo e esse motivo não existe. Seria um golpe, algo não democrático. A regra é clara. Isso não está em discussão." Para 2014, ele diz que o PTB irá apoiar quem as bancadas do Senado e da Câmara decidirem. "Por isso hoje a tendência é um alinhamento com o PT. O partido quer trabalhar junto com suas bancadas", conclui.