Título: Apesar de corte nas contas de luz, inflação fica estável em janeiro
Autor: Martins, Arícia
Fonte: Valor Econômico, 05/02/2013, Brasil, p. A2

Em vigor desde 24 de janeiro, o corte de 18% nas tarifas de energia elétrica residencial já foi captado pelo Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S), da Fundação Getulio Vargas (FGV), mas deu pouco alívio à inflação no fechamento do mês. Mesmo com queda de 5,19% nas contas de luz, que tirou 0,15 ponto percentual do indicador nos cálculos da fundação, o IPC-S ficou praticamente estável entre a terceira e a quarta quadrissemanas de janeiro, ao passar de 1,03% para 1,01%.

Divulgado ontem pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o IPC da cidade de São Paulo ainda não incorporou o reajuste negativo de energia porque, de acordo com sua metodologia, o impacto só será sentido quando a cobrança de fevereiro chegar ao consumidor. Com avanço em seis das sete classes de despesas pesquisadas - a única exceção foi habitação - o IPC-Fipe se acelerou de 1,04% para 1,15% entre a terceira e a última semana de janeiro. Nessa comparação, o item energia recuou de 1,4% para 1%.

Na semana anterior à divulgação, quando o governo ainda não havia anunciado que o corte nos preços de energia valeria a partir do fim do mês passado, o coordenador do IPC-S, Paulo Picchetti, previa que o indicador fecharia janeiro com alta de 1,15%. Apesar da surpresa positiva na parte de energia residencial, Picchetti diz que a trajetória dos alimentos sofreu deterioração além do previsto. O grupo terminou janeiro com avanço de 2,18%, acima da alta da medição passada, de 2,08%, com salto de 20% em hortaliças e legumes.

"Há um quadro de pressão em alimentação bem diferente do início de 2012, quando o grupo estava em patamar inferior e em tendência de desaceleração. Agora, está acontecendo exatamente o contrário", diz o economista, movimento que inibe o potencial de ajuda à inflação dado pela antecipação da queda das contas de luz. "É óbvio que poderia ser ainda pior sem essa queda de energia, mas há uma dinâmica de pressão inflacionária configurada", avalia Picchetti.

Além das condições climáticas desfavoráveis para a produção de alimentos in natura, o coordenador do IPC-S destaca outros grupos que costumam registrar aceleração no início do ano, mas com comportamento dentro das estimativas, como educação (2,8% para 3,9%). Outro fator de pressão foi o impacto pontual do aumento do imposto sobre cigarros, que levou o grupo despesas diversas a subir 4,2% na quarta semana de janeiro.

A despeito de impactos pontuais e sazonais sobre a inflação, a analista Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, diz que a dinâmica inflacionária está "muito ruim" neste começo de ano, dado que os núcleos do IPCA - medidas que tentam expurgar ou diminuir o efeito de itens voláteis sobre o indicador - estão em aceleração. No IPCA-15 de janeiro, a média dos três núcleos mais usados passou de 0,59% para 0,74%. "Mesmo com o adiamento de reajustes de ônibus urbano em capitais importantes e com a ajuda de energia, temos indicadores de inflação bastante pressionados", afirmou.

Com o efeito inicial da queda das tarifas de energia, Adriana calcula que o IPCA irá subir 0,87% no primeiro mês do ano. Sem esse alívio, a alta seria de 0,95%, diz ela. A ajuda maior da desoneração de energia à inflação oficial, segundo a economista, virá em fevereiro, mês para o qual projeta alta de apenas 0,17% para o IPCA, já contando com impacto do reajuste de 6,6% da gasolina nas refinarias sobre as bombas. "Também haverá desaceleração de produtos importantes em alimentação, transportes e vestuário", explica.

Picchetti estima que o pico da queda das contas de luz será observado no IPC-S da terceira quadrissemana de fevereiro, mas prefere não fazer projeções para o índice final da deflação em energia. "Esse percentual ainda não está claro, porque não sabemos se o desconto será homogêneo entre as distribuidoras e vamos captar os preços apenas das sete capitais que o IPC-S cobre."

O economista Étore Sanchez, da LCA Consultores, projeta que o indicador da FGV irá ceder para 0,21% no fechamento de fevereiro, como efeito da saída dos reajustes de educação e de perda de fôlego em alimentação e vestuário, mas principalmente devido à retração de 18% no item energia. No IPC da Fipe, apurado segundo o regime de caixa, diz Sanchez, o impacto de baixa dessa deflação será ainda maior. Esse movimento, junto a um recuo mais forte dos alimentos e de vestuário na capital paulista, fará o IPC-Fipe cair 1,2% na última semana de fevereiro, nas contas da LCA.