Título: Derrota de Russomanno faz PRB mudar estratégia
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Fonte: Valor Econômico, 18/01/2013, Política, p. A10

As eleições municipais de 2012 em São Paulo foram um duro choque de realidade para o PRB. Ao disputar a ponta nas pesquisas com gigantes da política nacional - e se manter na liderança durante boa parte do percurso, com uma queda brutal a 15 dias da votação que deixou seu candidato, Celso Russomanno, fora do segundo turno - a sigla percebeu o quanto a estrutura de campanha miúda e a falta de massa crítica no partido para discutir a viabilidade de suas propostas pode ser fatal na disputa com profissionais do ramo.

Para tentar sanar tais problemas, bem como descolar do partido a pecha de braço político da igreja evangélica Universal do Reino de Deus, o PRB foi buscar o doutor em economia, ex-secretário municipal e velho conhecedor dos bastidores da política paulista Marcos Cintra, por anos filiado ao PR e que acaba de deixar o PSD. Como presidente estadual do PRB-SP, será dele a missão de dar "organicidade" à legenda, fundada em 2005 e ainda carente de uma identidade que a diferencie no vasto quadro partidário atual. "O que me atraiu foi participar da construção ideológica de um partido que começa pequeno, mas tem uma massa eleitoral já consolidada. A vinculação à igreja é um ativo valioso, mas ser dominado por essa marca te impõe um teto eleitoral", avalia.

Sobre a derrota na disputa à sucessão paulistana, o presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, faz uma avaliação de rara franqueza, ao dizer que faltou à sigla "experiência e diálogo". "Tinhamos o candidato certo e a proposta errada. O bilhete proporcional matou a candidatura do Russomanno, simplesmente porque a proposta era horrível e os adversários souberam explorar isso", admite. A proposta de criação de uma tarifa de ônibus proporcional ao trajeto percorrido, que entrou "meio despercebida" no plano de governo do candidato, diz Pereira - tanto que sua rasa elaboração não ocupava mais do que duas linhas - foi citada pela primeira vez em um debate na TV Gazeta, duas semanas antes do primeiro turno, lembra. "Começamos a perder a eleição naquele debate. Nas pesquisas qualitativas, já tinhamos detectado que o eleitor via vários atributos no Celso, mas tinha dúvidas sobre sua aptidão para gestor", diz. Quando os adversários começaram a bater na proposta, com o argumento de que sua implantação penalizaria a população mais pobre que mora nas franjas da cidade, aquilo se conectou ao que já era uma preocupação do eleitor.

"Penso que fez muita falta ao PRB ter uma retaguarda de bons técnicos, de gente que jamais teria deixado passar uma proposta dessa. Depois de colocada, o candidato teve que defendê-la e se afundou cada vez mais", complementa Cintra, com a concordância de Pereira.

Pior foi ter de ouvir isso dos adversários. Na segunda-feira, Pereira encontrou José Serra, candidato do PSDB derrotado no segundo turno, na cerimônia de posse do novo secretário de Esportes estadual. Depois das gentilezas habituais, Serra teria lhe dito: "Se vocês não tivessem colocado aquela ideia imbecil do bilhete proporcional, hoje o prefeito de São Paulo seria o Celso Russomanno ou eu, porque o PT não iria ao segundo turno", conta Pereira.

Em uma mostra de que muito há a ser feito para alcançar a esperada unicidade no PRB, Pereira diz que seus deputados por ora fecharam questão sobre apenas um ponto de uma eventual reforma política. "Se for colocado o financiamento público de campanha, votaremos contra". Imediatamente, Cintra o encara, surpreendido. "Olha só, nós nunca conversamos sobre isso. E a propósito, eu sou a favor do financiamento".