Título: Aquisição faz reviravolta no grupo Ultra
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2007, Empresas, p. B13

O empresário Paulo Cunha, da Ultrapar, disse que a compra dos ativos de distribuição de combustíveis adquiridos do grupo Ipiranga é o maior negócio que já fez. "Por enquanto, a compra é só a maior, mas a intenção é transformar, em breve, no melhor negócio", disse o empresário ao Valor.

A aquisição da Ipiranga implica numa reviravolta do grupo Ultra. Em 2001, Paulo Cunha, que deixou no início deste ano o comando executivo do grupo mantendo a presidência do conselho de administração, tentou comprar a Copene, a central de matérias-primas do Nordeste, mas perdeu a disputa justamente para o grupo Odebrecht, controlador da Braskem, aliada na operação de compra da Ipiranga.

Agora, essa tacada fortalece sua posição como um dos maiores grupos empresariais do país em faturamento. A receita líquida da Ultrapar crescerá de R$ 5 bilhões para R$ 23,7 bilhões. A geração de caixa sobe 75%, para mais de R$ 850 milhões.

De imediato, o grupo ingressa em um novo negócio na posição de vice-liderança. Será dono da segunda maior distribuidora de combustíveis (álcool, gasolina e diesel), com uma rede de postos de serviço de 3,4 mil estabelecimentos nas regiões Sul e Sudeste. A participação de mercado será de cerca de 15%, atrás apenas da Petrobras, que eleva sua fatia de 33% para 38% com a operação de ontem.

Cunha contou que a primeira tentativa de ingresso na distribuição de combustíveis começou em 2002, mantendo conversas com Petrobras e Ipiranga. Depois, houve outros interessados, como a Repsol. Na ocasião, o negócio não vingou e as conversas só foram retomadas em meados do ano passado, disse o empresário.

Com a posse da distribuidora de combustíveis adquiridas da Ipiranga, a tarefa atual, disse Cunha, é "energizar" os ativos. "A intenção é levar nosso modelo de gestão aliado à competência técnica do grupo Ipiranga", declarou Cunha.

O empresário disse que o negócio de distribuição de combustíveis não traz sinergias com a operação de venda de gás liquefeito de petróleo (GLP), a qual a Ultra é líder, com quase um quarto do mercado. "Há pouca coincidência da base, mas devemos dar mais produtividade à operação", afirmou.

Na aquisição dos ativos, o grupo Ultra também ficou com a marca Ipiranga, que terá uma licença para a Petrobras, por cinco anos, até que a estatal faça a troca pela bandeira "BR" nos postos situados no Nordeste, Norte e Centro-Oeste.

O grupo estuda a possibilidade estender no futuro sua rede de distribuição para as regiões onde está fora. "Temos a opção de levar a bandeira Ultragaz para os postos de serviço", disse. Outra alternativa é ressuscitar a bandeira Atlantic, que pertencia à Ipiranga e hoje encontra-se em desuso.

Paulo Cunha disse que a compra dos ativos Ipiranga não deve mudar a estratégia de internacionalização do grupo (que está no México na área química) tampouco afetar a disposição de participar do projeto do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), orçado em US$ 8,4 bilhões, em parceria com a Petrobras. "Continuamos com o interesse no setor petroquímico", afirmou o presidente da Ultrapar, Pedro Wongtschowski.

"A operação de compra da Ipiranga não afeta nossa solidez de caixa", destacou Wongtschowski.