Título: Braço direito de Haddad cumpria missão de fechar cursos superiores ruins
Autor: Klein, Cristian
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2012, Política, p. A12

Durante a disputa pela Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad dividiu sua sala no diretório municipal do PT com um antigo aliado. Luís Fernando Massonetto, ex-secretário do Ministério da Educação e assessor direto do petista, editou o programa de governo, fez o contato com o meio acadêmico e foi um dos principais interlocutores de Haddad na definição dos rumos da campanha. Braço direito do prefeito eleito, Massonetto será um dos três encarregados pela transição do governo e tem lugar garantido na próxima gestão.

Discreto, com uma trajetória entre a academia e a gestão pública, Massonetto tem um perfil semelhante ao do prefeito eleito e sintonia intelectual com Haddad. Professor da Faculdade de Direito da USP, conciliou seus estudos entre as áreas de Ciências Sociais e Economia. No Ministério da Educação, teve papel de destaque na implementação do Prouni, bandeira de Haddad na Pasta.

Massonetto, de 35 anos, é formado pela Faculdade de Direito da USP, a mesma em que Haddad estudou e presidiu o centro acadêmico. Ligado ao PT, mas sem estar filiado, estagiou na Câmara Municipal na liderança do PT e depois foi efetivado como advogado da bancada petista em um período de efervescência do Legislativo paulistano, com o escândalo de corrupção conhecido como a Máfia dos Fiscais e o processo de cassação do então prefeito Celso Pitta.

Por indicação de Ursula Peres, atual professora de finanças e políticas públicas da USP, ingressou na Secretaria de Finanças na gestão Marta Suplicy (PT). Na secretaria, trabalhou por dois anos como assessor de Haddad, que era chefe de gabinete do então secretário João Sayad. Foi nessa época em que se aproximou do prefeito eleito. Com a saída de Sayad e de Haddad do governo, Massonetto foi para a Secretaria de Negócios Jurídicos como chefe de gabinete.

Se assumir a Secretaria de Negócios Jurídicos, para a qual é cotado, será sua segunda vez passagem pela Pasta. Na gestão Marta esteve à frente da secretaria por dois meses.

Depois do governo Marta (2001-2004), Massonetto foi para Brasília e trabalhou por cerca de um ano como advogado associado no escritório de Luiz Tarcísio Ferreira Teixeira, que foi o secretário de Negócios Jurídicos da gestão Marta e é irmão do deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), petista próximo a prefeito eleito.

Em 2006, foi para o Ministério da Educação a convite do então ministro Haddad para ser chefe de gabinete. Novamente, assumiu a função de braço direito do petista durante a construção do Plano de Desenvolvimento da Educação, que ajudou a projetar Haddad no plano nacional. Dois anos depois, em 2008, Massonetto voltou para São Paulo, para lecionar na Faculdade de Direito da USP.

No meio acadêmico, Massonetto é respeitado e visto como um professor dedicado e de formação sólida. Doutor em direito econômico e financeiro pela USP em 2006, foi orientado pelo ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Eros Grau na produção de uma tese sobre como o Estado organiza seus gastos, que, segundo colegas, é "um trabalho super elogiado". Dedicado à pesquisa na área de direito econômico, com foco em questões macroeconômicas e políticas brasileiras e finanças públicas, Massonetto é bem quisto por alunos e colegas no Departamento de Direito Econômico, Financeiro e Tributário da Faculdade de Direito da USP, onde ingressou por meio de um concurso público disputado, com apenas duas vagas disponíveis e 13 candidatos.

Fora do ministério, trabalhou como gerente corporativo no departamento jurídico da Companhia Siderúrgica Nacional. Ainda na iniciativa privada, foi sócio, junto com o hoje colega da USP Alessandro Octaviani, no escritório Octaviani e Massonetto Advocacia.

Em 2011, Haddad pediu para Massonetto voltar para o ministério e assumir a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior, responsável por inspecionar a qualidade dos cursos oferecidos pelas universidades, sobretudo as privadas. A função ganhou destaque com a forte expansão do ensino privado no país, a partir do Prouni. "Fechamos várias vagas, curso de Medicina, curso de Direito,... Fechei inclusive uma instituição grande em São Paulo, a São Marcos", diz. "Haddad me deu total liberdade de ação para corrigir as distorções", afirma. O ex-secretário pondera que não exercia apenas o "poder de polícia". "Fechar curso não é o foco, mas é um instrumento para sanear e tornar o sistema mais eficiente".

Quando retornou ao ministério, Massonetto não deixou de lecionar na USP. Em junho deste ano, deixou o cargo de secretário e ingressou na campanha do petista, mas mesmo no período eleitoral continuou como docente. Na campanha, costurou o programa de governo. "Nossa preocupação era com custo das propostas, para ter um programa factível".

Ao falar sobre Haddad, reforça a "afinidade acadêmica, as leituras comuns e a tradição teórica compartilhada" que tem com o petista.

Além de Massonetto, Haddad levou para sua campanha outro regresso da Faculdade de Direito da USP, Gustavo Vidigal, que foi seu aluno na universidade. No governo federal Vidigal trabalhou como secretário-executivo adjunto do então ministro da Cultura Juca Ferreira e trabalhou no gabinete de Marta Suplicy no Senado. "É a cota pessoal de Haddad, a cota acadêmica", diz Massonetto. "Os demais integrantes são vereadores e deputados". Vidigal também participará da gestão Haddad.

Massonetto divide a transição do governo com Ursula Peres, que o levou para a Secretaria de Finanças, e o coordenador geral da campanha, vereador Antonio Donato. Além da Secretaria de Negócios Jurídicos, é cotado para continuar como o braço direito de Haddad no governo, na chefia de gabinete.