Título: Analistas projetam recuo na produção
Autor: Machado, Tainara
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2012, Brasil, p. A3

Sem o forte impulso da produção de automóveis em setembro - as montadoras anteciparam a fabricação de carros em agosto - a expectativa dos economistas é que a indústria como um todo devolva parte da alta de 1,5% da produção observada no mês anterior e encerre setembro com queda.

A média das projeções de 11 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data é de recuo de 0,7% da produção física, na comparação com agosto, feitos ajustes sazonais. As estimativas variam entre estabilidade e retração de 1,6%. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga hoje o resultado.

Apesar da queda esperada para o mês, a indústria irá encerrar o trimestre em campo positivo, o que não acontece desde o segundo trimestre de 2011. A parada em setembro, dizem os economistas, é uma acomodação após o forte avanço do mês anterior, permanecendo a expectativa de recuperação gradual nos próximos meses.

Para a economista Fernanda Consorte, do Santander, a cadeia automotiva antecipou a produção em julho e agosto para atender à demanda esperada no período, influenciada pela possibilidade de término da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros - renovado no fim daquele mês, primeiramente até outubro e agora até dezembro.

Em setembro, as montadoras reduziram o ritmo e produziram 1,3% a menos do que no mês anterior, de acordo com dados da Anfavea, entidade que reúne as montadoras instaladas no país. Fernanda prevê recuo de 0,9% da produção industrial em setembro.

Marcelo Arnosti, da BB-DTVM, vê um quadro mais favorável e estima estabilidade da atividade nas fábricas no período. O economista lembra que o setor de bens intermediários, que representa a maior parte da produção da indústria doméstica, cresceu 2% em agosto. Para Arnosti, esse é um indicador que antecipa a produção no futuro, já que a demanda por esses itens depende de encomendas das fábricas de bens finais.

Outro fator que prejudicou o comportamento da indústria no mês, segundo Robson Pereira, economista do Bradesco, foi a menor quantidade de dias úteis. Setembro teve apenas 19 dias úteis, quatro a menos que agosto, ficando abaixo também da média histórica para o mês, que é de 21 dias úteis. Pereira projeta queda de 0,3% na produção no período.

"Até o momento, os indicadores da indústria sugerem que o setor está em recuperação", diz Pereira. Ele cita como exemplo a Sondagem da Indústria da Fundação Getulio Vargas (FGV) de outubro, que mostra que a produção de bens de capital aumentou.

Fernanda, do Santander, ressalta que, se confirmada a queda de 0,9% na produção da indústria em setembro, o setor manufatureiro encerrará o terceiro trimestre com alta de 1,1%, interrompendo sequência de quatro trimestres consecutivos de retração Para Arnosti, da BB-DTVM, essa alta será um pouco maior, de 1,2%.

Para o Itaú, a indústria crescerá a um ritmo anualizado de 4,5% no terceiro trimestre. "A retomada da atividade no setor é fator-chave para a perspectiva de que o crescimento da economia no trimestre seja mais forte, de 1,2% na comparação com o segundo trimestre ou um pouco inferior a 5% em termos anualizados", afirmam os economistas do banco em nota.

Arnosti avalia que o setor manufatureiro manterá ritmo de crescimento superior a 1% por trimestre até meados do próximo ano, citando o consumo em patamar ainda elevado e a expectativa de recuperação dos investimentos.

Para o economista, esse quadro não será substancialmente alterado pelo fim dos incentivos fiscais para a venda de automóveis e itens da linha branca, porque é esperado que o investimento avance mais rápido no primeiro trimestre de 2013, compensando a perda de impulso esperada para o consumo.