Título: No reduto de Russomanno, eleitor quer mudança
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2012, Polítca, p. A7

Na periferia da zona leste de São Paulo, no Itaim Paulista, o vigilante Fabio Trajano da Silva, de 34 anos, levou mais de treze horas para fazer um exame de eletrocardiograma no hospital municipal perto de sua casa. Depois da longa espera, foi liberado sem falar com um médico e sem ter acesso ao exame. Fabio enumera percalços enfrentados quando buscou atendimento em unidades de saúde da prefeitura e diz que não é a única área em que teve problemas. Toda noite, diz, tem de dar aulas de reforço escolar para sua filha de nove anos, aluna da rede municipal. Nesta eleição, seu voto não foi para o PT nem para o PSDB, que já governaram São Paulo. "É tudo farinha do mesmo saco", afirma, declarando ter escolhido Celso Russomanno (PRB), derrotado nas urnas.

Morador do distrito onde Russomanno teve seu melhor desempenho eleitoral - 29,77% dos votos válidos, ante 21,6% na cidade - Fabio resume as queixas relatadas por dezenas de eleitores do bairro, que dizem esperar por "mudanças" na qualidade dos serviços municipais. "Estou insatisfeito e se pudesse mudaria de cidade". O jovem afirma que não votará no segundo turno no candidato do PSDB, José Serra (PSDB), e diz não conhecer o do PT, Fernando Haddad.

Na porta do hospital da região, Claiton Dias de Amorim, de 19 anos, também diz ter votado em Russomanno em busca de "renovação". "Fica só o PT e o PSDB. Queria mudar, buscar o novo", diz. No segundo turno, já definiu o voto e irá de Haddad. "Não voto no PSDB porque eles já estão há um tempão no governo do Estado e não mudaram nada. Na eleição passada, votei no [Gilberto] Kassab (PSD) e ele não fez um governo bom. Por isso também não me animo em votar no PSDB", diz, referindo-se ao prefeito, que apoia Serra. Ao falar da boa votação que os petistas costumam ter no Itaim Paulista, diz: "Aqui é mais por rejeitar os outros do que por apoiar o PT".

A exemplo do que houve no Itaim Paulista, Russomanno registrou suas melhores votações em distritos petistas. No bairro, Haddad ficou com 38,63%, seguido por Russomanno, com 29,77% e Serra, com 15,17%. O distrito registra um dos piores IDHs da cidade: está em 89º lugar, de uma lista de 96.

O artesão Mario Martins, de 48 anos, votou em Russomanno porque "não acredita mais" em promessas do PSDB. "Eu nunca fui muito a favor do PT. Acho que é um partido que gosta de fazer greve, é muito agitador", diz, lembrando que já votou nos tucanos Geraldo Alckmin e Serra. "Mas vou votar no Haddad no segundo turno porque o Serra tem mania de largar o mandato". Para Mario, um dos melhores prefeitos foi o atual deputado Paulo Maluf (PP). "Sempre votei nele. Você vê as obras que ele fez em São Paulo... Não tenho do que reclamar", diz.

Colega de Mario, o artesão Eduardo Moreira dos Santos, de 54 anos, também votou no PRB, apesar de ter escolhido o PT em outras eleições. "Tomei um susto quando vi que não foi para o segundo turno. Mas acho que falou muita besteira. Agora vou de Haddad porque é carne nova. Se for bem, poderá ser candidato a presidente. Serra a gente já conhece".

A ajudante de cozinha Rosa Soares, de 51 anos, escolheu Russomanno porque o conhecia da televisão. "Me identifiquei com ele. Sempre o via no canal sete e achei que seria um bom prefeito". Agora, irá anular o voto. "Esse Haddad eu não conheço e fiquei decepcionada com a história de Serra correr atrás da Presidência. Gostava dele e já votei nele", diz.

O montador de móveis Renato Gonçalves, de 38 anos, diz ter votado em Gabriel Chalita (PMDB) porque o pastor da igreja Assembleia de Deus, ministério Belém, recomendou o voto no pemedebista. "Vi o que o pastor Silas Malafaia falou de Chalita na TV. A gente tem que votar em alguém que tenha Cristo no coração", diz. Alheio à negociação dos partidos em busca de aliança no segundo turno, diz que não vai votar no PT mesmo se Chalita apoiar Haddad. "Sou anti-PT. Nunca votei no PT. Vou de PSDB".

A atendente Telma Evangelista, de 32 anos, diz que votaria em Russomanno mas mudou o voto na última hora para Chalita. "Vi na televisão que ele ia aumentar a passagem do ônibus, que já é cara", diz.

Distante cerca de 40 quilômetros dali, em Pinheiros, achar um eleitor de Russomanno é missão árdua. No distrito, com o segundo melhor IDH da cidade, Russomanno teve seu pior desempenho eleitoral. Serra teve 60,29% dos votos válidos, seguido por Haddad, com 20,11% e Russomanno, com 5,97%.

"Não tenho nada contra o Russomanno, mas ele tava metido com a Igreja Universal [do Reino de Deus], diz o estudante Christian de Luca, de 20 anos. Eleitor de Serra, o jovem pensou em votar em Chalita, mas ao ver que o candidato ficaria fora do segundo turno, optou pelo PSDB.

A assistente social Vera Antonelli, de 54 anos, votou decidida em Serra e repetirá o voto no segundo turno. "Ele é o mais preparado. Russomanno não tem o perfil para administrar uma cidade como São Paulo. E não foi bom misturar igreja e religião", diz. "Já votei em Alckmin, já votei no Kassab e na Dilma. Voto no candidato. Não sou muito fiel a partido".