Título: Ajuda à Espanha não elimina volatilidade
Autor: Machado , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 11/06/2012, Finanças, p. C2

Espremida entre o socorro aos bancos espanhóis e a nova eleição parlamentar na Grécia, a semana promete mais volatilidade nos mercados financeiros. Analistas não descartam uma trégua temporária na tensão dos investidores após a União Europeia se comprometer com uma ajuda de até € 100 bilhões para a Espanha recapitalizar o setor bancário. Mas argumentam que, embora necessário, esse novo capítulo está longe de encerrar as preocupações com a crise do continente.

"Obviamente é um passo na direção correta, porque a pior coisa que pode ocorrer é um pânico bancário", afirma o professor do Departamento de Economia da PUC-Rio Márcio Garcia.

"Algo era necessário fazer e, como sempre, a Europa faz a coisa certa, mas muito tempo depois do necessário. Os dados que já vimos, se não mostram ainda uma corrida bancária, são ao menos uma "caminhada" bancária."

A Espanha registrou saída recorde de capitais em março, da ordem de € 66 bilhões, segundo dados do banco central que incluem movimentação de investidores internacionais e aplicação de recursos de espanhóis fora do país. Em nove meses ininterruptos de saques, a retirada líquida alcançou € 194 bilhões - sendo € 97 bilhões somente no primeiro trimestre deste ano. Nesse cenário, afirmam os economistas, seria crucial que a Europa avançasse em negociações para que, juntos, os governos da zona do euro garantissem os depósitos nos bancos - algo nos moldes do FDIC (Federal Deposit Insurance Corp). "O evento mais importante que poderia ocorrer neste momento é a definição de um seguro de depósitos para todos os bancos europeus, mas para isso é necessária uma política regulatória única", cita o ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas. "O que vemos nessa situação é um problema de fuga de recursos, dinheiro que sai da Espanha e outros países e vai para a Alemanha, por exemplo. Não é um problema específico de déficit público."

Nas últimas semanas, o rendimento de títulos soberanos da Alemanha chegou a ser negativo, mostrando que o investidor está disposto a abrir mão de juros apenas pela segurança de manter o capital investido em ativos considerados seguros.

"Não se sabe exatamente o tamanho dos recursos que os bancos precisam para cobrir seus créditos ruins. Tem essa informação de até € 100 bilhões [em ajuda para a Espanha], mas isso é algo que pode mudar da noite para o dia. Assim fica difícil o mercado ter uma trégua mais duradoura, mas pode ter um alívio temporário, sem abandonar a volatilidade", acrescenta o ex-diretor do Banco Central.

Com a eleição na Grécia em menos de uma semana, o tema Europa não sairá tão brevemente dos holofotes. Ainda assim, Freitas não acredita que o momento já exigiria mudanças na estratégia de política monetária no Brasil. "Não vamos ter uma ruptura "à la Lehman" porque as posições são mais conhecidas", argumenta.

Na sexta-feira, ao divulgar a ata de sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) dedicou um parágrafo específico aos dois países na linha de frente da crise. "Na Europa, a crise da dívida segue com o impasse político na Grécia e com os sinais de fragilidade do sistema bancário na Espanha, o que elevou os prêmios de risco desse país, dificultando o acesso ao mercado de dívida soberana. Nesse cenário, o dólar avançou em relação ao euro e às moedas de países emergentes, enquanto os rendimentos anuais dos papéis de 10 anos nos EUA e na Alemanha alcançaram, em maio, os menores valores das respectivas séries históricas", resumiu a ata.

No documento, o colegiado do BC apontou que seu cenário central considera os efeitos decorrentes da deterioração do cenário externo sobre o Brasil "sem a observância de eventos extremos". Mas, diferentemente do que seu viu nas atas anteriores, não há mais a avaliação de que a turbulência externa teria efeito no país equivalente a um quarto do visto na crise de 2008/2009.