Título: Analistas descartam crescimento maior do PIB
Autor: Martins, Arícia; Machado, Tainara
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2012, Brasil, p. A4

O mais novo pacote de estímulo lançado pelo governo foi visto com pouco entusiasmo por grande parte dos analistas, que por enquanto descartam crescimento maior do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano graças à redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis e aos demais incentivos ao crédito e ao investimento. As medidas, no entanto, reforçam a hipótese de atividade mais forte no segundo semestre, podendo contribuir para estancar a rodada de revisões das projeções para o PIB ocorrida nas últimas semanas, que passaram a se deslocar para a casa de 2,5%.

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, avalia que as medidas podem levá-lo a colocar um viés de alta em sua projeção de 2,5% para o PIB deste ano, mas dificilmente o crescimento encostará em 3%. O primeiro efeito deve ser de consumo dos estoques das montadoras, que em abril alcançaram o maior nível desde 2008. "Devemos ter algum efeito no terceiro trimestre, por causa das vendas associadas às condições facilitadas de crédito, e a expectativa no quarto trimestre é de recuperação um pouco mais forte", diz.

Para Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, o segmento automobilístico é importante para alavancar o crescimento no curto prazo, devido ao efeito multiplicador que um ritmo melhor no setor tem ao longo de toda a cadeia. Na ausência de novas medidas, um crescimento levemente superior ao do ano passado, quando o PIB do país avançou 2,7%, poderia ficar comprometido, avalia.

No entanto, uma corrida às concessionárias nos moldes do que ocorreu em 2009, quando o governo também cortou o IPI de carros para estancar os efeitos da crise externa, não está no radar.

Para Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, a economia doméstica e a externa estão num momento diferente do de 2009. Naquele ano, lembra, apenas os Estados Unidos estavam em recessão. Não havia expectativa de crescimento menor para a China, grande compradora de commodities brasileiras, nem crise aguda na Europa, um mercado ainda importante para o Brasil. Além disso, afirma Silveira, o nível de endividamento do consumidor não era tão elevado como o atual.

"Não há dúvida que o impulso no passado foi grande e as decisões tomadas agora não terão a mesma força", diz o analista da RC, para quem as novas medidas não devem garantir uma alta maior que 2,5% para o PIB neste ano, nem algo além de 3% em 2013.

Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o impacto dos estímulos na atividade deve ficar mais concentrado em 2013. Seu cenário para a produção ficou inalterado, com alguma recuperação apenas a partir do segundo semestre, já que o nível de estoques acumulados pelo setor é muito elevado.

Mais otimista, o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, acredita que os estímulos adicionais corroboram seu cenário de retomada da economia, também concentrado no segundo semestre, mas com um crescimento de 3,1% no ano. Em sua avaliação, a redução de IPI em automóveis terá efeito imediato sobre o consumo, assim como ocorreu em 2009, já que ainda há espaço para antecipação de compras. A inadimplência alta, considerada entrave para uma retomada forte nas vendas de veículos, deve recuar daqui em diante, disse Goldfajn, em linha com a queda dos juros.

Durante apresentação de projeções do banco, o Goldfajn destacou que a indústria automobilística representa 10% do setor no país, sem contar a cadeia produtiva que dela depende, e afirmou que o departamento econômico do banco estuda revisar sua estimativa de 1% para o aumento da produção industrial neste ano após o anúncio da redução do IPI de carros. "É normal as pessoas desacreditarem a força das medidas, mas nossa percepção é de retomada, e ela tem a ver com os estímulos", frisou.