Título: Análise aponta divergências no BB
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 16/08/2006, Finanças, p. C3

A análise de resultado do Banco do Brasil publicada na internet traz números menos favoráveis do que os divulgados na entrevista coletiva concedida, anteontem, para apresentar o resultado do banco no primeiro semestre. A diferença foi notada por investidores que compararam os dois conjuntos de dados.

Pela análise de resultados, o lucro recorrente do banco - ou seja, aquele que tende a se repetir nos próximos semestres - foi de apenas R$ 1,585 bilhão no primeiro trimestre, e não os R$ 2,9 bilhões anunciados na entrevista; há discrepância também nos dados do segundo trimestre, que na análise de resultados aparece como sendo R$ 647 milhões, mas, na entrevista, foram anunciados como sendo R$ 1,1 bilhão.

O gerente de relações com investidores do BB, Marco Geovanne Tobias, afirma que a discrepância dos dados se explica pelo fato de a análise do resultado ser um relatório gerencial, que faz a interpretação dos dados contábeis. Na divulgação do balanço, disse, os executivos do banco apresentaram uma interpretação das informações contábeis e, na análise do resultado, outra.

"Procuramos disponibilizar as informações de todas as formas possíveis, para que o investidor e o analista façam sua própria leitura", afirmou. "A interpretação apresentada na divulgação do balanço é correta, assim como as informações apresentadas na análise de desempenho." A diferença entre os dados apresentados em um lugar e no outro, diz, se explica sobretudo pelo tratamento dado ao aumento da provisões para perdas nos empréstimos agrícolas.

O resultado recorrente é o lucro que tende a se repetir nos períodos seguintes. Para chegar a ele, são subtraídas receitas e despesas entendidas como extraordinárias. Existe uma dose de interpretação para determinar quais lançamentos realmente são extraordinários.

Na análise de desempenho, é apresentada a versão mais conservadora do resultado recorrente. Assim, de forma geral, faz-se a opção por incluir os maiores valores possíveis na receita extraordinária, e os menores possíveis nas despesas extraordinárias. Na entrevista sobre o balanço, o BB teria adotado um critério mais realista.

É o caso das provisões para possíveis perdas nos empréstimos agrícolas, no valor de R$ 1,4 bilhão. Os executivos do BB argumentam que essa é uma despesa extraordinária, que não vai se repetir nos próximos trimestres. Os eventos que levaram a um maior risco de perdas, como as secas e a valorização do dólar, tendem a não se repetir no futuro.

No caso do dólar, o que provoca maior impacto sobre os agricultores é a variação da cotação da moeda, e não o seu patamar. O produtor rural tipicamente perde dinheiro quando toma as decisões de investimento com uma taxa mais depreciada e, ao vender o produto, encontra um câmbio mais apreciado.

Esses fatores fizeram o volume de provisões subir de 2,85% dos empréstimos agrícolas para 8,19%, entre junho de 2005 e de 2006. A expectativa é que, absorvido esse impacto, a necessidade de provisão recue. É por esse motivo que, em conferência ontem com investidores, o BB projetou em R$ 350 milhões por trimestre as suas próximas provisões agrícolas, bem abaixo dos R$ 850 milhões ocorridas no balanço do segundo trimestre.