Título: Apoio condicionado ao controle de gasto
Autor: Mainenti, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 10/10/2010, Economia, p. 17

Para baixar juros, PV prega um Estado mais enxuto e eficiente, visão diferente da que prevaleceu nos últimos anos do governo Lula. Petista e tucano disputam votos do partido

Com um capital de 20 milhões de votos concedidos a ela no primeiro turno das eleições presidenciais, Marina Silva (PV) terá a capacidade de influenciar os programas dos candidatos que conseguiram chegar à segunda ¿ e última ¿ etapa da corrida pelo Palácio do Planalto. Em busca do apoio de Marina e dos eleitores dela, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) analisam aquilo que podem incorporar do projeto dos verdes, inclusive em questões econômicas. Temas como gasto público e reforma tributária constam da Agenda por um Brasil justo e sustentável, documento divulgado pelo PV na última sexta-feira e que servirá de base para as negociações com o tucano e a petista.

¿Nossa proposta é a de limitar o crescimento do gasto público à metade do crescimento do país¿, diz ao Correio o coordenador do programa de Marina, Tasso Azevedo. ¿A lógica disso é que quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresce, aumenta a arrecadação, elevando a capacidade de poupança e investimentos do setor público. Isso permite a redução da taxa de juros e um círculo virtuoso para a economia¿, explica.

O assessor de Marina admite, porém, que essa estratégia diverge da tendência expansionista das despesas com o custeio da máquina do Estado observada nos últimos anos de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, gastança que Dilma defende sem constrangimento. ¿Nossa proposta coloca em xeque o que está sendo feito pelo governo atual¿, diz Azevedo. Integrantes do PV, como Fernando Gabeira, defendem abertamente apoio a Serra, que teria uma visão de Estado mais enxuto e eficiente como forma de manter a inflação sob controle e os juros, em patamares aceitáveis ¿ longe dos atuais 10,75% ao ano.

De olho nessas manifestações de apoio, logo após a divulgação do programa dos verdes para os candidatos que disputam o segundo turno, o tucano não perdeu tempo. ¿Vamos abraçar, sim (os projetos do Partido Verde), sem dúvida alguma. Basta lembrar que, em São Paulo, o PV esteve comigo, tanto na prefeitura quanto no governo do estado¿, declarou Serra, durante campanha em Vitória da Conquista (BA).

Anseio da sociedade

A decisão de Marina Silva pode não acompanhar a do Partido Verde (PV) ¿ que tem convenção marcada para o dia 17, na qual definirá seu apoio a Dilma Rousseff ou a José Serra. Por isso, petistas já preparam o terreno para que possam avançar as conversas entre ela e a candidata da legenda. A tramitação do projeto que altera o Código Florestal Brasileiro, por exemplo, foi paralisada na Câmara dos Deputados. Prevendo anistia aos que desmataram até 2009, ele é criticado por ambientalistas, mas o governo estava disposto a ceder aos ruralistas ¿ antes do fator Marina.

¿Nosso desenvolvimento continuará sendo ambientalmente equilibrado, como demonstram os êxitos que tivemos no combate ao desmatamento e na construção de alternativas energéticas limpas¿, diz texto de manifesto para o segundo turno assinado por aliados de Dilma. O presidente Lula, por sua vez, alterou a sua agenda na última hora e começa amanhã, pela Ceilândia (DF), uma peregrinação por redutos que deram vitória à sua ex-ministra do Meio Ambiente no primeiro turno.

Um diálogo entre Marina e Dilma, no entanto, não será fácil. As duas tiveram uma rotina de conflitos enquanto ministras de Lula. No programa da candidata verde está prevista, por exemplo, a criação de um índice que meça a densidade de emissões de carbono na economia brasileira. Dilma precisaria estar disposta a explicitar seu compromisso em incorporar ideias como esta. A maior dúvida ainda é se falará mais alto a mágoa de Marina ou a origem petista dela.

Há também a opção de que Marina ¿ hoje fortalecida ¿ mantenha-se neutra e invista em uma nova corrida ao Planalto em 2014. Mas tudo dependerá da habilidade que Dilma e Serra terão para convencê-la de que a sua agenda será incorporada. ¿O voto na Marina mostra o anseio da sociedade nas agendas ambiental e ética. O bom líder é o que souber capturar isso¿, avalia a economista sênior do Royal Bank of Scotland (RBS) para América Latina, Zeina Latif.