Título: BNDES financia aquisição do Aché
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2006, Empresas, p. B7

A diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou, nesta semana, o primeiro financiamento para aquisição entre laboratórios nacionais no âmbito do Programa de Apoio ao Desenvolvimento à Cadeia Farmacêutica (Profarma).

O empréstimo será contratado com o laboratório Aché, o maior de capital nacional do país. O financiamento tem valor de R$ 311 milhões, dos quais R$ 295 milhões serão destinados à compra do controle da Biosintética, operação concretizada em outubro do ano passado. Os outros R$ 16 milhões irão para ampliação da fábrica do Aché, localizada na cidade de Guarulhos (SP).

"Se o Aché for capaz de capturar a sinergia decorrente dessa aquisição vai surgir uma empresa com chance de chegar ao primeiro lugar do mercado nacional e de se tornar uma grande empresa de capital aberto", disse ao Valor Pedro Palmeira, chefe do Departamento de Produtos Químicos e Farmacêuticos do BNDES. A liderança pertence à francesa Sanofi-Aventis. Segundo Palmeira, a Biosintética leva para dentro do Aché uma cultura de atuar no "limite possível do esforço inovador", dentro da sua disponibilidade de recursos.

Estimular investimentos em inovação é uma das metas do Profarma, programa que beneficia um dos quatro setores eleitos pelo atual governo como estratégico para fins de política industrial. Os outros são os de bens de capital, eletroeletrônicos e softwares. Historicamente, a indústria farmacêutica de capital nacional tem mais o perfil de copiar produtos já desenvolvidos, salvo exceções, justamente pela limitação de capital.

Palmeira contou que a compra da Biosintética pelo Aché começou a se desenhar em 2003, quando uma equipe do BNDES visitou este último como parte de um programa de estudos para elaborar o diagnóstico setorial que resultou na criação do Profarma. "Perguntamos na época em que eles gostariam de investir caso o banco disponibilizasse uma linha para o setor. Três meses depois, eles nos apresentaram um pequeno plano de expansão da fábrica de Guarulhos", relata o técnico do BNDES.

Segundo Palmeira, foi dito que o banco esperava algo mais agressivo do maior laboratório nacional. Foi então que, algum tempo depois, o Aché apresentou uma lista de opções de aquisições, a partir de estudo de um banco de investimentos, encabeçada pela Biosintética.

Nas gestões que se seguiram, a proposta inicial era de um empréstimo combinado com participação acionária do BNDES no Aché. Essa opção não vingou, segundo Palmeira, por falta de consenso entre as partes sobre o valor das ações do laboratório. "Decidimos abandonar a idéia e fazer uma operação de financiamento que fosse boa para ambas as partes", conta.

O empréstimo que resultou das negociações tem prazo de 72 meses (seis anos), incluindo carência, e juros de 5% ao ano, incluindo spread de risco, mais a variação da taxa de juros de longo prazo (TJLP), hoje em 7,5%.

Segundo apurou o Valor, o Aché conseguiu levantar os recursos para a compra da Biosintética junto ao Banco Itaú enquanto negociava o empréstimo com o BNDES, o que só ocorreu dez meses depois do anúncio de aquisição da empresa. A operação uniu duas empresas que no ano passado somaram vendas de R$ 1,665 bilhão, sendo R$ 951 milhões do Aché e R$ 714 milhões da Biosintética.

A linha do Profarma está subdividida em três partes: uma de investimento na produção (operação mais tradicional do BNDES), outra para "fortalecimento da empresa nacional (fusões e aquisições, restrita a empresas de capital nacional) e outra para pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I).

Criado em março e operacionalizado em maio de 2004, o Profarma tem hoje uma carteira de R$ 811,9 milhões, correspondente a investimentos totais dos tomadores de R$ 1,591 bilhão. São 40 operações, sendo 17 contratadas, 6 aprovadas e 17 em tramitação