Título: Compra de caças para a FAB foi adiada, diz Alencar
Autor: Rosângela Bittar e Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2004, Especial, p. A12

Esperada com ansiedade pelos militares da Aeronáutica, a compra dos caças que reaquiparão a Força Aérea Brasileira (FAB) foi novamente adiada. O vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, informou ontem que este ano não haverá a escolha do fornecedor, mas o projeto pode ficar para muito mais tarde. Alencar mencionou a hipótese, muito provável, de suspensão do projeto pelos próximos três ou até quatro anos. O argumento do novo ministro da Defesa, apresentado em conversa com a imprensa, enquanto esperava os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Vladimir Putin para o almoço em homenagem ao presidente russo, é que, nesta área, a evolução tecnológica está acontecendo muito rapidamente, o que cria o risco de, "quando houver a decisão, apresentar-se o vencedor com uma proposta totalmente obsoleta". Mas o presidente Lula, segundo fez questão de enfatizar o vice-presidente, ainda não definiu este adiamento por quatro anos. "Ele é quem vai bater o martelo", acrescentou. Após o almoço, Alencar tratava de tirar qualquer pressa na definição do consórcio que fornecerá os caças. Ele demonstrou não estar preocupado com a perda de validade das propostas finais na concorrência FX, como o processo é chamado. Na interpretação de grupos participantes da seleção do primeiro lote de 12 unidades da nova geração de caças da FAB, as ofertas caducariam até o fim do mês. "Essas propostas podem vencer e ser renovadas. Isso não é complicado", sublinhou Alencar, em um claro recado de que o assunto esfriou no governo. A compra dos caças é avaliada em US$ 700 milhões. Cinco consórcios entregaram propostas: o franco-brasileiro Embraer-Dassault, com o modelo Mirage-2000/BR; o russo-brasileiro Sukhoi-Avibrás, com o Su-35; o americano Lockheed Martin, com o F-16; o sueco-britânico Saab-BAE, com o JAS-39 Gripen; e o russo Rac-Mig, com o modelo Mig-29C. O anúncio do vencedor era esperado para o fim de 2002, ainda na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas foi adiado. Ao assumir, o presidente Lula preferiu suspender temporariamente a aquisição, alegando que o dinheiro deveria ser gasto no combate à fome. O processo de escolha foi retomado e no mês passado, em entrevista ao Valor, o então ministro José Viegas afirmou que o anúncio seria feito até o fim de novembro. Ele também antecipou que os russos da Mig não haviam preenchido todos os requisitos e estavam fora da disputa. Viegas batalhava nos bastidores pela escolha do Su-35 da Sukhoi, o caça preferido pelo comando da Aeronáutica. A imprensa russa chegou a noticiar a "troca" dos 12 caças do projeto FX pela aquisição de 50 aeronaves da Embraer pela estatal de aviação Aeroflot. Ontem, o jornal "The Moscow Times" noticiava a possibilidade de concretizar-se essa operação comercial. "A palavra Embraer não foi mencionada durante a reunião", garantiu o assessor internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia. O assunto dos caças foi levantado por Putin no encontro com Lula, mas "não durou mais do que 30 segundos", na descrição do assessor - teria sido, basicamente, um agradecimento do russo pela inclusão de seu país na lista de concorrentes. A conversa, no entanto, não evoluiu nesse sentido porque o encontro era político e não "uma rodada de negócios", conforme deixou claro o chanceler Celso Amorim, visivelmente satisfeito com as reuniões e incomodado com o tom de cobranças pela falta de anúncios comerciais. Não se sabe o que pensa Alencar especificamente sobre os caças russos. Mas o fato é que, depois da visita liderada por ele a Moscou, no mês passado, boa parte da comitiva de técnicos brasileiros que o acompanhava ficou mal-impressionada com a planta da fábrica da Sukhoi. Alencar quebrou o protocolo para ir à empresa, durante a viagem que fez para participar da Comissão Bilateral Brasil-Rússia. Funcionários brasileiros que faziam parte da delegação dizem que a fábrica tinha a grama mal-aparada, sujeira espalhada por diversos locais e transmitiu "pouca credibilidade" aos integrantes da comitiva.