Título: Ferramentas monetárias são melhor arma contra desaceleração, diz S&P
Autor: Pacheco,Filipe
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2011, Finanças, p. C2

O principal componente da estratégia anticíclica brasileira para abrandar o contágio da crise externa deve ser a política monetária. Essa posição foi defendida enfaticamente, ontem, pela presidente da agência de risco Standard & Poor"s (S&P) no Brasil, Regina Nunes, durante evento promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, com apoio do Valor, e cujo tema era a reavaliação do risco Brasil. Também presente ao evento, o diretor de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, avalia que essa opção está em vigor e será um das razões que vai ajudar o crescimento do país em 2012.

"Nós esperamos que isso [o combate à crise] seja feito mais com políticas monetárias do que fiscais. Porque por si só elas já dão impulso para a parte fiscal", disse Regina. Para a agência, o ponto mais fraco da avaliação soberana brasileira é justamente a estrutura fiscal. A continuidade do ritmo de corte da taxa básica de juros no país aproximaria o Brasil da estrutura de outras nações com características macroeconômicas semelhantes e que são usadas nas comparações da agência, explica ela. "Está na hora de o Brasil tentar usar um pouco mais dessa política monetária em termos [de instrumentos] contracíclicos." Regina reafirmou que, como a perspectiva do novo rating brasileiro ("BBB", dado em novembro) é estável, a agência tem até três anos para fazer uma reavaliação do risco do país.

Na avaliação de Barros, no mundo, a "ortodoxia" vai tirar um período "sabático" e políticas não convencionais ganharão espaço. A crise atual, avalia ele, terá um impacto sobre o Brasil equivalente a 20% daquele gerado pela crise de 2008. Para ele, o Brasil pode crescer 3,7% no próximo ano, "uma projeção que tem viés de alta". O crescimento mais acelerado que os 3% de 2001 virão do afrouxamento monetário já em curso, da volta do investimento público, de um papel mais ativo do BNDES, da reversão parcial das medidas macroprudenciais, dos estímulos fiscais em projetos como o Brasil Maior e do aumento do salário mínimo.

Para Carlos Hamilton Araújo, diretor de política econômica do Banco Central, que também participou da discussão, a desaceleração atual da economia brasileira tem características diferentes daquela de 2008. Há três anos, a queda foi generalizada, para oferta e demanda. Agora, avalia, ela decorreu de um movimento planejado pela autoridade monetária e afetou os componentes do Produto Interno Bruto (PIB) em momentos distintos. A oferta, reconheceu, sentiu primeiro, especialmente a indústria. "Mas temos a visão de que a demanda está também moderando no passo que foi planejado", disse. O BC, reconheceu, já trabalha com a possibilidade do PIB encerrar o ano entre 3% e 3,5%.

Já para a Petrobras, uma eventual restrição de crédito em 2012, por conta do recrudescimento da crise na zona do euro, não deve ser um empecilho aos planos de investimento. O maior desafio para a empresa executar seu plano de investimentos (de US$ 225 bilhões para o período entre 2011-2015) não é o financiamento dos projetos, mas a sustentabilidade da sua cadeia de fornecedores, segundo apresentação feita durante o mesmo seminário por Jorge José Nahas Neto, gerente-executivo de planejamento financeiro e gestão de riscos da estatal.

Nas contas da estatal, em um cenário conservador (com barris de petróleo a um preço médio de US$ 85), a empresa precisaria captar no mercado (com emissões ou empréstimos) US$ 12 bilhões de dólares ao ano. Em um cenário mais realista, com o barril cotado a US$ 95, o valor anual de financiamentos novos necessários cairia para US$ 7 bilhões. "São valores significativos, mas inferiores aos que levantamos em anos de crise", argumentou Nahas Neto. Na apresentação, ele mostrou captações totais de US$ 35 bilhões em 2009 (incluindo recursos do BNDES), US$ 36,2 bilhões em 2010 e US$ 18 bilhões este ano, incluindo a recente captação em euro e libra. Na avaliação da área financeira da Petrobras, o mercado de dívida pode ter restrições na Europa, mas continua forte nos Estados Unidos e "o mercado doméstico também é pouco explorado".