Título: BID financia compra de recebíveis
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2006, Finanças, p. C1

A Brazilian Securities (BS), companhia de securitização de recebíveis imobiliários do grupo Ourinvest, terá liberado a partir desta semana um empréstimo de US$ 75 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), por sete anos, para aquisição de novos títulos emitidos pelas incorporadoras. O empréstimo foi aprovado no fim de 2005 mas só agora os recursos começam a ser desembolsados, depois de cumprida a burocracia do banco multilateral.

É a primeira operação financeira do Departamento de Setor Privado do BID realizada este ano com recursos de um programa de estímulo ao mercado de capitais da América Latina, disse Daniela Carrera Marquis, executiva do Departamento e responsável pelo projeto. Até o fim de 2005, o BID liberou US$ 2,85 bilhões dentro do programa, dos quais empresas brasileiras receberam US$ 640 milhões. Os recursos servirão para lançar uma novidade: a aquisição junto às incorporadoras, de recebíveis de 20 anos para vencimento. As emissões atuais são de no máximo dez anos, segundo Fábio Nogueira, diretor da BS.

Serão US$ 100 milhões no total, incluindo o aporte de capital próprio da BS em contrapartida ao investimento do banco. "As incorporadoras poderão agora lançar o 'Plano 240' ao invés do Plano 100", exemplificou Nogueira, referindo-se ao plano de financiamento de 100 meses lançado por uma grande incorporadora brasileira, há alguns anos. O objetivo é comprar recebíveis gerados pelo financiamento direto das incorporadoras aos compradores de imóveis residenciais, emitir Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e dar liquidez a estes papéis no mercado secundário.

Daniela Marquis explicou que os recursos serão liberados em tranches, à medida em que a BS compre recebíveis das incorporadoras. O acordo visa adquirir papéis de financiamentos para compra e reforma de imóveis residenciais, mas operações com imóveis comerciais também são elegíveis, desde que atendam aos pré-requisitos estabelecidos pelo BID em relação ao risco de cada operação. "A estrutura permite à BS comprar uma grande variedade de instrumentos hipotecários, baseados em critérios de diversificação, sobre-colaterais e tipos de investimentos", disse Marquis.

Fabio Nogueira disse que o alongamento do prazo permite que as incorporadoras atinjam um número maior de potenciais compradores. "O objetivo é atingir a baixa renda. O prazo maior é fundamental para baixar o valor das prestações. No futuro, queremos chegar a 25 ou 30 anos", afirmou o diretor da BS.

Com os recursos do BID, a BS - que compra os recebíveis e os revende para investidores institucionais diversos - poderá recomprar esses papéis dos investidores antes do vencimento, atendendo àqueles que não querem ficar com o papel até o final. O mercado secundário de recebíveis imobiliários é considerado essencial para o desenvolvimento do Sistema Financeiro da Habitação. Hoje o secundário é muito pequeno, mas está crescendo, conforme os dados da Bovespa.