Título: Europeus entram no mercado de fundações
Autor: Laguna ,Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2011, Empresas, p. B10

A expansão da construção civil e os investimentos em infraestrutura estão estimulando o desenvolvimento de uma indústria de equipamentos para fundações de obras no Brasil. Nos últimos três anos, fabricantes europeus se instalaram no país e começaram a mudar a situação de dependência das importações desse tipo de maquinário.

Estimativas da Abef - entidade que abriga as empresas de engenharia de fundações - apontam que as vendas de máquinas como perfuratrizes e bate-estacas alcançaram a marca anual de R$ 350 milhões e passaram a justificar a produção local.

Fora isso, fatores como o custo alto para internalizar esse tipo de maquinário - que além de frete inclui uma alíquota de importação de 14% - e as exigências de nacionalização para se ter acesso às linhas de financiamento mais vantajosas do mercado estimularam a chegada de fabricantes que antes abasteciam o mercado brasileiro apenas a partir de operações no exterior.

São exemplos dessa iniciativa a espanhola Llamada e as italianas Soilmec e CMV. Juntas, as três companhias destinaram por volta de R$ 40 milhões a novas instalações desde 2009.

Os empreendimentos são de capital pouco intensivo, apesar da magnitude e complexidade tecnológica dos equipamentos. Em geral, são galpões que montam sistemas de perfuração com torres que chegam a 30 metros e podem pesar perto de 80 toneladas.

Espanhola Llamada e as italianas Soilmec e CMV investiram, juntas, R$ 40 milhões para produzir perfuratrizes

Em Tatuí, no interior de São Paulo, a catalã Llamada está perto de concluir a instalação de sua primeira unidade de produção fora da Espanha - onde tem duas fábricas. Com um orçamento que prevê investimentos de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões na nova casa, a empresa pretende fabricar de três a quatro máquinas por mês a partir de fevereiro.

Fabiano Jorge, diretor da filial brasileira, diz que o Brasil também será a plataforma da empresa para atendimento aos mercados na América do Sul e Caribe. A nova fábrica de Tatuí ocupa uma área coberta de 4,1 mil metros quadrados dentro de um terreno de 28 mil metros quadrados, o que abre a possibilidade de futuras expansões, caso a reação do mercado seja positiva. "Temos espaço físico para aumentar ainda mais", diz Jorge.

Ao instalar fábricas no Brasil, os novos entrantes acreditam que estarão melhor posicionados para capturar as oportunidades surgidas com o aumento das edificações de imóveis e a proliferação dos canteiros de obras pelo país - sobretudo com vista aos investimentos relacionados à realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016.

Executivos dessas empresas dizem que os impostos de importação representam uma desvantagem competitiva, que é acentuada num momento em que o dólar ensaia trajetória de recuperação.

A produção local também traz vantagens ligadas aos financiamentos, dado que a linha de crédito mais barata - oferecida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - exige índice de nacionalização de pelo menos 60%. Como o custo desse maquinário é bastante alto, podendo chegar perto de R$ 4 milhões, o crédito representa uma parte fundamental do negócio.

Por fim, o crescimento do mercado brasileiro passou a ser mais observado pelos europeus diante das dificuldades enfrentadas em seus mercados de origem. "Esse é um processo muito recente. Antes, a atuação dos fabricantes estrangeiros no mercado brasileiro era muito esporádica. Até porque, até 2003, esse era um mercado muito pequeno", comenta Marcos Cló, diretor comercial da CZM, empresa pioneira no Brasil na fabricação de equipamentos para fundações e que vê agora um acirramento da concorrência.

O cenário mudou com o boom no mercado imobiliário e o surgimento de novos empreendimentos de infraestrutura. Depois de ver minguar a demanda pelas máquinas que produzia em sua terra natal, o italiano Giuseppe Senatore se mudou para o Brasil há três anos para fundar com seu sócio, Francesco Lo Presti, uma fabricante de perfuratrizes: a CMV Brasil.

O negócio começou em um galpão de 1,5 mil metros quadrados na cidade de Cotia (SP), mas - dada a necessidade de um espaço maior para a produção de equipamentos mais pesados e mais altos - a empresa em pouco tempo teve que se transferir para uma área de 5 mil metros quadrados em Vargem Grande Paulista (SP).

Com a expectativa de que obras ligadas à Copa do Mundo sejam aceleradas a partir do ano que vem, Senatore está confiante de que poderá dobrar para R$ 60 milhões o faturamento da CMV em 2012. "Tudo terá de ser feito no ano que vem. A demanda será muito forte em 2012 e 2013 por conta da Copa. Vamos ver obras em todo o país e não se faz obras sem equipamentos de fundação", afirma.

Outra italiana que veio ao Brasil, a Soilmec, considerada a segunda maior do setor no mundo, se instalou em Santana de Parnaíba (SP) em 2009, mas já tem planos de expandir a linha de produção e por isso começa a estudar novos locais. "Instalar uma fábrica no Brasil custa mais dinheiro, mas dá um resultado melhor", acredita Filippo Guerra diretor da filial brasileira.

Conforme a Abef, investimentos em fundações costumam representar de 8% a 12% do custo de qualquer obra, consumindo um terço do tempo total da construção. Em alguns casos, como cidades litorâneas, as fundações precisam alcançar uma profundidade de 60 metros.

Clóvis Salioni Júnior, presidente da associação, diz que há cinco anos o país chegava a depender dos importados para 90% dos equipamentos de maior tecnologia. Não existem dados oficiais, mas os fabricantes estimam que o mercado de máquinas perfuratrizes está entre 200 e 300 unidades.

Marcos Cló, da CZM, diz que sua empresa aposta na ampliação do portfólio de produtos para defender sua posição de mercado face ao acirramento da concorrência. Ele diz que a CZM tem metade das vendas de perfuratrizes no país e fatura R$ 150 milhões, com uma fábrica instalada numa área de 22 mil metros quadrados em Contagem, em Minas Gerais. "Se a Europa não quebrar e os investimentos em infraestrutura no Brasil prosseguirem, teremos mercado para triplicar o tamanho da empresa nos próximos cinco anos", acredita.