Título: Acordo com o Mercosul não interessa à China
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Fonte: Valor Econômico, 02/08/2006, Brasil, p. A2

A China avisa que não está interessada em negociar um acordo comercial com o Mercosul, em meio a um cenário de expansão desse tipo de entendimento. "Nossa agenda (de negociações bilaterais) está carregada", argumenta o embaixador chinês na Organização Mundial do Comércio (OMC), Sun Zhenyu. Segundo ele, o Mercosul é "importante", mas as prioridades no momento são com outros parceiros.

Há dois anos, o Mercosul propôs ao governo chinês a negociação de um acordo de preferências tarifárias fixas. Os dois parceiros ficaram de fazer estudos. Dois problemas apareceram de imediato: primeiro, o Paraguai tem relações diplomáticas com Taiwan e não com Pequim. E segundo, a cobiça pelo gigantesco mercado chinês é temperada por fortes temores na área industrial do Mercosul com a competitividade dos produtos baratos chineses.

A tendência de mais acordos bilaterais de livre comércio foi reforçada com a suspensão da Rodada Doha. Pequim já vem recorrendo a esse mecanismo para garantir acesso a matérias-primas e preferências para suas exportações. Assinou acordos com o Chile, maior produtor mundial de cobre, e com a Asean, grupo de dez países do Sudeste Asiático, que inclui Tailândia, Filipinas, Indonésia e Malásia.

Está negociando com a Austrália e Nova Zelândia, grandes fornecedores de produtos agrícolas. Agora, estuda abrir discussões com a Índia, uma das economias que mais crescem no planeta junto com a da própria China. Pequim discute acordo também com Arábia Saudita, Bahrein, Kuait, Omã e Qatar, fornecedores de mais de 40% do petróleo que importa.

Ao mesmo tempo, a Índia sinaliza seu interesse em ampliar as relações comerciais com o Brasil e a África do Sul, no encontro ministerial que os três países vão realizar em setembro em Brasília.

No entanto, os indianos não se mostram dispostos a abrir muito seu mercado pela via bilateral. Os países da Asean suspenderam negociações com Nova Déli, na semana passada, depois que os indianos pediram a exclusão de 850 importados da Asean, que representam 30% das vendas para a Índia. (AM)