Título: Após eleição, Espanha deve ter uma nova onda de privatizações
Autor: MacInnes,udy
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2011, Internacional, p. A7

O novo governo da Espanha vai analisar a venda de ativos estatais que vão de uma rede de hotéis turísticos a estações de TV regionais como forma de combater a crise econômica que o país atravessa. Segundo analistas, também podem entrar na lista a lucrativa loteria estatal e a concessão das operações dos dois maiores aeroportos do país.

Esses dois negócios, que juntos poderiam levantar € 14 bilhões de euros, foram cancelados recentemente devido às condições desfavoráveis do mercado e ao impacto da campanha eleitoral.

O Partido Popular (PP) - a oposição de centro-direita, que caminha para uma folgada vitória nas eleições gerais de domingo - se opôs às vendas porque a volatilidade dos mercados financeiros significava que os ativos seriam vendidos a preços subvalorizados.

Mas o PP comandou a onda prévia de privatizações na Espanha, na metade final dos anos 90, e, de acordo com analistas, deve dar prosseguimento ao processo da venda das concessões para os aeroportos de Barajas (Madri) e El Prat (Barcelona) até o fim do primeiro semestre de 2012.

O novo governo talvez tenha menos interesse em reexaminar a venda parcial da loteria, uma valorizada instituição espanhola que no ano passado conseguiu uma receita de € 2,9 bilhões para o Tesouro - mas ainda trata-se de uma possibilidade.

Uma opção para a loteria espanhola é o modelo britânico, no qual em vez de haver uma venda total há um leasing para um operador privado durante um período determinado, em troca de um substancial pagamento adiantado. Para Jaime Sanz Legaz, secretário-geral do centro de estudos Faes - ao qual se atribui o crédito pela elaboração das principais diretrizes da política econômica do PP -, trata-se de um modelo "viável e atraente".

"A posição oficial do governo é que jamais embarcaria em privatizações pela necessidade de dinheiro, e sim porque elas são estrategicamente importantes. A desregulamentação é importante para aumentar a competitividade econômica da Espanha", disse Fernando Fernandez, economista e analista político da escola de negócios IE, de Madri. "Minha impressão é que estão apenas esperando por melhores oportunidades em termos de mercados financeiros."

Os demais planos de privatização do PP estão mais centrados no nível regional, afirma Sanz Legaz. Setores como o de água e tratamento de lixo provavelmente serão oferecidos a investidores privados para ajudar a aliviar as dificuldades financeiras das regiões autônomas do país. Sensibilidades regionais devem entrar no caminho das privatizações, mas o PP poderia pressionar políticos locais.

Teme-se que as 17 regiões autônomas do país, que respondem por cerca de metade do orçamento espanhol, vão tirar o governo central dos trilhos em seus esforços para atingir um déficit público de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.

A privatização de emissoras de TV regionais, a maioria das quais tem enormes dívidas, possivelmente também entrará nos estudos, segundo Legaz.

Entre os demais ativos de destaque que podem ser privatizados estão a empresa de tratamento e distribuição de água Canal Isabel II, com sede em Madri, e a rede de Paradores - acomodações turísticas em castelos, palácios, mosteiros e outras construções históricas.

A venda das concessões dos aeroportos espanhóis, esperada para ser reativada no fim de janeiro, apresenta muitos atrativos por oferecer a oportunidade única para empresas privadas de administrar alguns dos maiores aeroportos europeus e algumas das principais conexões com a América Latina, particularmente no caso de Barajas, em Madri.

O governo havia nutrido a esperança de obter pelo menos € 3,7 bilhões por Barajas e € 1,6 bilhão por El Prat, bem como uma taxa anual de operação por uma concessão de 20 anos, com a possibilidade de uma extensão de mais 5 anos. Pelos padrões desse setor, essa concessão é curta e banqueiros disseram que a estimativa era superavaliada.

A Espanha investiu bastante para aprimorar Barajas e El Prat, e o governo pretende maximizar os retornos, mas a pressão de potenciais compradores por modificações na concessão é forte.

Sabe-se que a empresa de infraestrutura espanhola Ferrovial está empenhada em conseguir um acordo envolvendo o aeroporto de Madri, enquanto a Abertis, sediada em Barcelona, é vista como uma das principais favoritas na disputa por El Prat.