Título: Lula convida presidente eleito a visitar o Brasil
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2006, Internacional, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou para o candidato vitorioso nas eleições peruanas ontem à tarde, para convidá-lo a visitar o Brasil, antes mesmo de sua posse. Com o telefonema e o convite, o governo brasileiro tenta firmar uma imagem de pragmatismo nas relações com os países do continente. Ao saudar Alan García, Lula procurou também minimizar o constrangimento, no Planalto, pela derrota de Ollanta Humala, a quem o presidente brasileiro chegou a elogiar e chamar de "companheiro" durante a campanha.

Associated Press Não foi desta vez: Chávez e Humala durante a campanha eleitoral peruana Lula e assessores acompanharam as eleições no Peru em torcida discreta pela vitória de Humala, considerado mais próximo das correntes de esquerda com quem se identifica o PT. Humala foi recebido em março no Palácio do Planalto, mas Lula não comentou a conversa entre ambos, fiel ao princípio de não-interferência em processos eleitorais de outros países. A discrição de Lula deixou García à vontade para afirmar, na campanha, que quer reforçar a aproximação com o brasileiro, a quem, segundo disse, procurará imitar, em contraposição ao estilo agressivo do venezuelano Hugo Chávez.

Com a eleição de García, que trocou insultos com Chávez , Lula tem agora um delicado problema diplomático para resolver. Chávez, que acaba de ingressar no Mercosul, com direito de voz ativa no bloco, disse que romperia relações com o Peru caso García fosse eleito. O projeto de formação da Comunidade Sul-Americana de Nações, acalentado por Lula, implica conseguir reunir os dois desafetos num projeto comum.

Na campanha, em que o acordo de livre comércio do Peru com os EUA foi um dos temas polêmicos, García fez questão de emitir gestos amistosos em direção ao Brasil. Disse ter intenção de estreitar laços políticos e comerciais. "Esse é o melhor tratado de livre comércio que a nossa pátria pode assinar, firmando sua proximidade e complemento econômico e social com o Brasil", afirmou, ao defender um acordo com o Brasil.

No último discurso de campanha, García prometeu programas de "analfabetismo zero e fome zero" e disse ter tomado a idéia de um programa de combate à fome de seu "amigo Lula", apontado por assessores de García como modelo a ser seguido para conquistar a confiança do setor privado.