Título: Abril pode ter saldo inferior ao de igual mês de 2005
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2006, Brasil, p. A5

O saldo da balança comercial brasileira pode registrar, em abril, a primeira queda desde julho de 2001 na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Segundo estimativas da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), o superávit desse mês pode ficar cerca de US$ 700 milhões abaixo do de abril de 2005.

Nas três primeiras semanas de abril, a média diária das exportações chegou a US$ 544,4 milhões, um novo recorde. Se esse ritmo for mantido na última semana, as exportações podem atingir US$ 9,8 bilhões no mês. Por outro lado, a média diária das importações está em US$ 367 milhões, que também é recorde, sinalizando US$ 6,6 bilhões no mês.

Nesse cenário, o superávit da balança comercial brasileira seria de US$ 3,2 bilhões em abril, abaixo dos US$ 3,9 bilhões de abril de 2005. A Funcex projeta superávit de US$ 43 bilhões em 2006, abaixo dos US$ 44,8 bilhões em 2005.

"Os superávits serão menores a cada mês. Na verdade, esse fenômeno demorou para ocorrer", afirma Fernando Ribeiro, da Funcex. O economista não está preocupado com a redução do superávit, porque o movimento deve ser gradual. "O Brasil não precisa de um superávit desse tamanho", diz, ressaltando que o país tem superávit em conta corrente.

Ribeiro ressalta que o sinal mais alarmante emitido pela balança é o arrefecimento do ritmo de exportação. No primeiro trimestre, a quantidade exportada pelo país aumentou 7,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. Esse indicador subiu 10,8% em 2005 e 17,7% em 2006. Já o volume de importações no trimestre cresceu o dobro: 14,5%. No acumulado em 12 meses, a quantidade exportada pelo país ainda supera a quantidade importada: 8% contra 6,9%, respectivamente. Mas a tendência é o sinal se inverter.

"É provável que o volume exportado país cresça abaixo do quantum mundial", afirma Ribeiro. A Organização Mundial do Comércio (OMC) estima que o volume de exportações mundiais aumente 7% em 2006. "O país só não vai perder espaço por conta da alta dos preços. Só que na hora que esse fenômeno reverter, haverá um tombo", diz.

No primeiro trimestre, os preços das exportações brasileiras subiram 12,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, influenciados pelos produtos básicos, cujas cotações expandiram 19,9%. Em março de 2006 em relação a março de 2005, a alta dos preços de exportação de básicos foi de 18,8%. A quantidade exportada de produtos básicos também obteve um bom desempenho: alta de 16,4% em março, 12,6% no trimestre de 9,7% em 12 meses. O destaque fica para petróleo (impulsionadas pela auto-suficiência da Petrobras), minério de ferro e soja.

A quantidade exportada de manufaturados subiu 9% em março em relação ao mesmo mês de 2005, mas foi um ponto fora da curva, na avaliação da Funcex. O resultado de abril deve ser mais fraco. No trimestre, o volume exportado de manufaturados subiu 6,7%. Um ritmo inferior aos 12,7% de 2005 e 22,6% de 2004.

Nas importações, o cenário é bem distinto. Os dados sinalizam crescimento das compras externas, provocado pelo aquecimento da economia e pela desvalorização cambial.

A quantidade importada de bens intermediários, que são insumos e matérias-primas para a indústria, aumentou 17,3% em março na comparação com março de 2005, o que sinaliza recuperação da atividade industrial. O volume importado desses produtos subiu 15,5% no trimestre e 8,3% no acumulado em 12 meses. Com base nesses dados, Ribeiro estima que a produção industrial pode crescer entre 4% e 5% no trimestre.

Sensíveis ao câmbio, as exportações de bens de capital e bens de consumo duráveis cresceram, respectivamente, 33,6% e 52,6% em janeiro a março de 2006 em relação ao mesmo período de 2005..