Título: Socorro à Irlanda não traz alívio aos mercados; medo de contágio prevalece
Autor: Milne , Richard ; Oakley , David
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2010, Financas, p. C2

Pode-se dizer ter sido sido a mais breve alta jamais registrada devida a um alívio financeiro. Qualquer pessoa que acreditasse numa recuperação dos mercados após notícias sobre o socorro à Irlanda teria ficado muito decepcionada, na segunda-feira.

Inicialmente , os rendimentos de ações, de títulos e o euro reagiram, todos, positivamente, de início, mas após apenas algumas horas cederam seus ganhos iniciais. Em vez disso, os mercados continuam assombrados pelo medo de contágio: a crise da dívida na Europa poderá se espalhar dos relativamente pequenos países denominados periféricos - Grécia, Irlanda e Portugal - para os maiores - Espanha e Itália.

"Eu me pergunto quanto tempo levará para que haja outra crise e que outro pacote de socorro seja necessário", disse Keith Wade, economista-chefe da Schroders, administradora de fundos no Reino Unido.

O único comprador significativo de títulos da Irlanda, na segunda-feira , parecia ser o Banco Central Europeu, de acordo com operadores no mercado financeiro, pois muitos investidores continuam temerosos em colocar seu dinheiro em Dublin, mesmo após um socorro.

O custo referencial para obtenção de empréstimos pela Irlanda caiu apenas 0,04 ponto percentual, ao passo que, para Portugal, cresceu 0,02 pontos percentuais.

A reação do mercado ficou em contraste com o ânimo em maio, quando a Grécia foi socorrida. Naquele caso , o rendimento dos títulos de 10 anos caíram quase meio ponto percentual após os gregos terem sido socorridos e quase 5 pontos percentuais uma semana mais tarde, quando a comunidade internacional anunciou seu enorme pacote de socorro, mobilizando ¿ 750 bilhões. Na verdade, na segunda-feira o rendimento dos papeis gregos subiu 0,33 pontos percentuais.

Jens Larsen, economista chefe do RBC Capital Markets para a Europa disse: "A reação do mercado nos diz que a crise da dívida da zona do euro está longe de terminar. O mercado está inseguro sobre como os eventos estão se desenrolando, o que explica a reação muda, hoje".

Isso provavelmente deixará as autoridades preocupadas, pois foi a reação extremada dos mercados nas últimas semanas que trouxe a questão do socorro à Irlanda a um ponto sem retorno. No mês passado, os rendimentos dos títulos irlandeses passaram de 6% para 8%. Poucos acreditam numa queda até níveis administráveis num futuro previsível.

Tomando a Grécia novamente como exemplo, as perspectivas não são boas. A rentabilidade dos títulos gregos caíram de um pico de 12,45% para 7,24% no dia do anúncio do enorme pacote de socorro. Mas eles subiram incessantemente desde então, e estão agora sendo negociados perto de seu pico de 11,69%.

"Essa vai ser uma história que ficará conosco por algum tempo", disse Jacques Cailloux, economista-chefe do Royal Bank of Scotland para a Europa.

A preocupação entre muitos investidores é de onde poderão vir compradores para a dívida dos países periféricos.

"É preciso que surjam novos investidores. Porém, muitas das intervenções têm gerado uma saída para os investidores", disse um gerente de carteiras num dos maiores investidores mundiais.