Título: Grupo pode rever funções e afastar família
Autor: Mattos , Adriana
Fonte: Valor Econômico, 12/11/2010, Finanças, p. C7

A crise que o Grupo Silvio Santos atravessa deve acelerar o processo de profissionalização de suas estruturas. Também não está descartado um movimento de revisão de cargos e funções, que pode levar a novas demissões nas empresas financeiras e não financeiras, inclusive no banco PanAmericano.

Como pano de fundo desse processo, há algo no mínimo curioso, percebido nos últimos dias por aqueles mais próximos de Silvio. Ele já comentou que acredita ter ficado distante demais de seus outros negócios além do SBT, principalmente depois que a emissora passou a brigar pela vice-liderança com a rede Record. "Ele [Silvio Santos] acha que é uma espécie de puxão de orelha, um tipo de aviso na hora certa", diz uma antiga amiga do empresário. Silvio foi informado pelo seu braço-direto, Luiz Sandoval, que o PanAmericano estava com problemas e haveria uma "intervenção branca" no negócio. Essa conversa aconteceu em setembro, depois que o Banco Central ligou para Sandoval informando-o dos fatos.

O que já foi colocado na mesa nesta semana, em um encontro entre Silvio e alguns poucos executivos mais próximos do empresário, é a hipótese de que novos ajustes sejam retomados com um enxugamento da área de média gerência, apurou o Valor, que conversou com um dos diretores que presenciaram a conversa. Seria uma espécie de reestruturação branda na gestão. Reduções de pessoal foram feitas em alguns negócios da companhia em 2009, quando 1,2 mil pessoas foram dispensadas porque existiam operações que estavam indo mal no grupo.

Sem fazer o menor barulho, a companhia encolheu quase 13% no ano passado, quando a receita de R$ 4,7 bilhões cresceu magros 5,6%. O lucro de R$ 73,5 milhões virou prejuízo de R$ 7,8 milhões.

"Quem vai bater o martelo é o Silvio. Ninguém é maluco de mexer em tudo agora, mas pode existir espaço para aprofundar mais ajustes que não foram feitos em funções ou cargos", afirma o executivo que esteve na reunião.

Procurada, a companhia negou a informação e considera essa questão como um rumor sem fundamento. Ao final de 2009, o grupo somava pouco mais de oito mil funcionários. São três mil a menos que o número de cinco anos atrás. Existem 370 gerentes nas quatro divisões da companhia, que incluem a área de comunicação, comércio e serviços, imobiliária e cosméticos. No cargo de diretoria, estão 35 pessoas. Há um executivo de médio ou alto escalão para cada vinte pessoas na empresa hoje. Há dois anos, era um para 45 pessoas, segundo consta no balanço anual de 2009. A empresa tem menos funcionários hoje na soma geral, mas a média gerência cresce a cada ano, desde 2005.

Esse movimento deve incluir ainda uma maior profissionalização da empresa. "Isso já estava acontecendo, mas devagar e sem muito critério. Um parente saía do dia a dia e depois voltava. Agora a profissionalização deve se acentuar", afirma o diretor que recebeu de Silvio Santos a tarefa de avaliar cargos e funções de seus parentes.

O raciocínio é simples: caso seja necessário se desfazer de ativos, os integrantes da família Abravanel devem acabar saindo dos negócios que forem vendidos. A ideia é não esperar até que uma venda ocorra para que ele reorganize as suas estruturas.

Luiz Sandoval, presidente do conselho de administração do grupo, já comentou nos últimos dias que Silvio aceita se desfazer de todas as suas operações, menos do SBT. Porém, segundo dois executivos que comandam duas unidades de negócio da empresa, não há qualquer orientação sobre o futuro dos ativos. Anteontem, funcionários do grupo receberam um e-mail de Silvio Santos em que ele tranquilizava os empregados sobre o futuro. "Silvio já não interferia em quase nada no dia a dia. Por enquanto, estamos trabalhando do mesmo jeito, e essa é a ordem até agora", diz um desses diretores.