Título: PT deve ganhar quarto mandato consecutivo no AC
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/10/2010, Política, p. A21

O PT caminha para conquistar o quarto mandato consecutivo no Acre e consolidar, além do mandato estadual mais longevo do partido, a hegemonia da família Viana na política do Estado. O senador e candidato petista ao governo do Acre, Tião Viana, pode vencer a disputa no primeiro turno, segundo as pesquisas de opinião, assim como seu irmão, Jorge Viana, deve conquistar uma das cadeiras para o Senado. A disputa está polarizada entre PT e PSDB e opõe dois modelos de desenvolvimento ambiental. A Frente Popular, composta por 14 partidos, entre eles o PT e o PV, tem 58% das intenções de voto na disputa estadual, segundo o Ibope. O candidato do PSDB, Tião Bocalom, tem 25% e Antonio Gouveia (PRTB), 1%. Na disputa pelo Senado, Jorge Viana lider com 63% e pretende obter uma das maiores votações proporcionais de todo o país. Em segundo lugar está Sérgio Petecão (PMN), com 38%. Ele era do grupo dos Viana mas foi para a oposição. Com sua vaga praticamente garantida, Jorge Viana faz forte campanha para Edvaldo Magalhães (PCdoB), outro candidato da Frente Popular, com 31%.

Entre as propostas de Tião estão a entrega da BR 364 no próximo ano, a expansão das exportações e o "Floresta Plantada", que deve ocupar uma área de 100 mil hectares nos próximos anos, com a plantação de dendê e seringueiras. Em campo oposto, o candidato do PSDB, Tião Bocalom, promete reabrir todas as marcenarias fechadas pelo governo e simplificar a legislação ambiental. "Os pequenos proprietários têm de usufruir mais da madeira", disse, admitindo a possibilidade do aumento do desmatamento no Estado.

No Acre, a oposição ao PT enfraqueceu-se desde que foi derrotada na disputa estadual, em 1998. O grupo opositor perdeu quadros para os petistas, não renovou suas lideranças e enfrenta dificuldades para se articular.

A força dos Viana, em contrapartida, aumentou desde que Jorge ganhou a Prefeitura de Rio Branco, em 1992. Desde então, nunca mais perdeu uma eleição. Ao vencer a disputa estadual em 1998, substituiu Orleir Cameli, cujo governo foi marcado por denúncias de corrupção, e moralizou a gestão. Hoje, Cameli apoia a Frente Popular.

O governo petista combateu o esquadrão da morte, liderado pelo ex-deputado Hildebrando Pascoal, e desvios na folha de pagamento. A gestão ficava cinco meses sem pagar os funcionários. Jorge Viana reelegeu-se e em 2006 elegeu seu sucessor, Binho Marques, que não quis tentar a reeleição. "Nunca quis ser governador", comentou Marques. "Adoro a gestão pública, mas me sinto completamente inibido ao ter que falar em público", disse. Na eleição passada, o grupo queria lançar Marina Silva, hoje candidata do PV à Presidência, mas a ex-petista não aceitou.

Com a saída de Marina do PT, a coligação de Tião divide o palanque entre as candidaturas dela e de Dilma Rousseff (PT). Marina não se afastou da Frente Popular , que ajudou a criar. No Acre, a propaganda de Marina é casada com a de Tião e Jorge Viana. Na reta final da campanha, a campanha dos irmãos Viana exibiu na televisão o apoio e o pedido de votos da candidata presidencial do PV.

No último comício da campanha estadual do PT, na noite de quarta-feira em Rio Branco, era comum ver pessoas com um adesivo de Marina e uma estrelinha do PT e bandeiras dos dois partidos. No comício, antes de pedir voto a Dilma, os Viana pediram "licença" à Marina.

No comício, os discursos foram marcados pela preocupação com a liderança no Estado do candidato à Presidência do PSDB, José Serra, segundo pesquisas de opinião. Mesmo sem ter pisado no Acre na campanha, o tucano tem 34% das intenções de voto, empatado com Dilma, com 32%, segundo o Ibope do início de setembro. Em seu berço político, Marina aparece com 19%. No levantamento anterior, ela estava em segundo lugar, com 32% e Dilma com 17%. Dos candidatos, só Marina foi ao Acre na campanha.

No comício, candidatos chamaram a militância para tentar reverter o quadro. "Serra está sendo derrotado em São Paulo. Que não venha querer ganhar no Acre", disse Jorge Viana. "É uma vergonha deixar aquele cabra ganhar. Temos uma candidata do Estado, temos a Dilma. Vamos varrer Serra daqui", disse a deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB).

Para o governador do Estado, Binho Marques, a leitura da pesquisa é outra. "Marina e Dilma são do mesmo campo político. A soma do resultado delas mostra que Serra não está à frente", afirma. O resultado da pesquisa intriga Tião Viana. Em suas contas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi 15 vezes ao Estado e destinou mais de R$ 3,5 milhões. "Ninguém sabe o motivo de Serra estar bem no Estado", diz.