Título: Absolvição de Costa acirra disputa no PT
Autor: Camarotto ,Murillo
Fonte: Valor Econômico, 25/03/2010, Política, p. A7

Quase quatro anos apóster sido indiciado por envolvimento na chamada "Máfia dos Vampiros", oex-ministro da Saúde Humberto Costa foi inocentado ontem pelo TribunalRegional Federal da 5ª Região (TRF5). Hoje à frente da Secretaria dasCidades do governo de Pernambuco e pré-candidato ao Senado pelo PT,Costa era acusado de participação no esquema de fraudes em licitaçõespara a compra superfaturada de hemoderivados, descoberto em 2004. Osdesembargadores do TRF, no entanto, alegaram ausência de provas contrao ex-ministro e o inocentaram por unanimidade.

Como resultado do julgamento, deve esquentar ainda mais a disputa internano PT pernambucano pela candidatura ao Senado na chapa do governadorEduardo Campos (PSB). Livre das acusações que lhe prejudicaram naseleições para o governo em 2006, Costa deverá reforçar ainda mais asarticulações para ficar com a vaga, que também é muito cobiçada peloex-prefeito do Recife João Paulo Lima e Silva. O deputado federalMauricio Rands corre por fora.

"Adecisão me recoloca na cena política de Pernambuco. Daqui para frente,tenho um horizonte mais amplo do que tinha até pouco tempo atrás. Tiraruma dúvida como essa fortalece qualquer pessoa que está na vidapública", disse Costa.

Seguindouma estratégia adotada em outros Estados, como Ceará, Rio de Janeiro,Paraná e Espírito Santo, o PT abriu mão da candidatura própria aogoverno de Pernambuco, em prol de um reforço em sua bancada no Senado,que foi palco de derrotas importantes da sigla durante o governo dopresidente Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente no segundo mandato.

Pertencentes a alasrivais no PT local, Humberto Costa e João Paulo já começaram a negociaruma saída amistosa para o imbróglio, porém estão longe de um acordo. Agrande disposição dos dois em concorrer ao Senado deve mesmo culminarna realização de prévias. Esta alternativa, no entanto, é melhor vistapor Costa, já que o ex-ministro pertence à corrente Construindo um NovoBrasil, a mesma de Lula, que saiu vitoriosa das últimas eleições do PTpernambucano, realizadas em novembro do ano passado.

Asanha pelas vagas na disputa ao Senado gerou, inclusive, a primeiracrise política administrada por Campos, também em novembro último. Naocasião, João Paulo, que ocupava a Secretaria de Articulação Regional,entrou em divergência com o secretário de Desenvolvimento Econômico,Fernando Bezerra Coelho (PSB), e acabou saindo do governo sem consultaro governador. A motivação principal foi exatamente a corrida ao Senado,também desejada por Bezerra Coelho.

Apesarda irritação com a atitude de João Paulo, o governador optou porpreservar a relação com o ex-prefeito, que goza de grande popularidadena região metropolitana do Recife, ativo que pode ser importante nadisputa pelo governo. Quando foi eleito, em 2006, Campos teve umdesempenho bastante inferior junto ao eleitorado da capital. Noprimeiro turno, obteve 33,81% dos votos válidos em todo o Estado e24,65% no Recife. No segundo turno, venceu com 65,36% dos votos dospernambucanos, porém com preferência de 57% dos recifenses.

Apesarde não haver qualquer definição até o momento, a tendência natural é deque uma das vagas fique mesmo com o PT, sendo decidida entre HumbertoCosta, João Paulo ou Rands. A outra é desejada por Bezerra Coelho, maso grande favorito é o deputado federal e presidente da ConfederaçãoNacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto (PTB). Pesquisadivulgada na última segunda-feira pelo Departamento Intersindical deAssessoria Parlamentar (DIAP) mostra João Paulo e Monteiro Neto comofavoritos para serem eleitos em outubro.

Atualmente,Pernambuco é representado em Brasília por três senadores que fazemoposição ao governo federal: Sérgio Guerra (PSDB), Marco Maciel (DEM) eJarbas Vasconcelos (PMDB), este último com mandato válido até o fim de2014. Já os dois primeiros almejam a reeleição, porém aguardam umadefinição sobre quem enfrentará Campos na disputa pelo governo, parasaberem em que palanques terão espaço.

Agrande esperança de Guerra e Maciel, para não dizer a única, é de queJarbas, duas vezes governador, aceite a empreitada. Contudo, a altapopularidade do atual governador gera certa cautela do senadorpemedebista na hora de calcular suas chances nas urnas. Sem Jarbas pelocaminho, a tendência é de que Campos, além de reeleito, faça seus doissenadores, ajudando, assim, a engordar a base de apoio a um eventualgoverno da ministra Dilma Rousseff.