Título: AGF reafirma o interesse pelas operações no Brasil
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 29/11/2004, Finanças, p. C-3

O presidente mundial do grupo franco-alemão AGF, Jean-Philippe Thierry, passou pelo Brasil semana passada não só para comemorar os 100 anos da seguradora no país. Ele veio também desfazer uma impressão forte no mercado de que a AGF estaria saindo do país. Essa impressão já vinha desde que a AGF e seu controlador, o grupo alemão Allianz, perderam milhões de dólares com a crise Argentina e ficou mais forte no início deste ano, quando a seguradora vendeu um banco, uma empresa de gestão de recursos de terceiros e toda sua carteira de vida e previdência para a Itaú Seguros. Em entrevista exclusiva ao Valor, Thierry garantiu que não pretende fechar nenhuma das quatro operações que mantém na América Latina (Brasil, Argentina, Venezuela e Colômbia). "Temos uma longa história na região, estamos comprometidos com o desenvolvimento desses países", afirmou Thierry. O grupo AGF é um dos maiores do mundo em seguros, com operações nos cinco continentes. Nos primeiros nove meses de 2004 faturou 9,2 bilhões de euros e teve um lucro líquido de 532 milhões. No Brasil, onde chegou em 1904, a AGF é a 10ª maior seguradora, com faturamento em prêmios líquidos de R$ 769 milhões entre janeiro e setembro de 2004. No ano passado, o grupo faturou R$ 1 bilhão. São 70 filiais em todo país, 500 mil segurados, 1,2 mil funcionários e 7 mil corretores ativos. Thierry disse que o grupo superou grandes dificuldades nos últimos quatro anos, da queda do mercado de ações mundial até os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, fatos que provocaram pesadas perdas para as seguradoras e resseguradoras em todo mundo. A AGF chegou a registrar perdas de quase 1,2 bilhão de euros em 2002, que resultaram em uma queda de 62% do lucro líquido daquele ano, comparado com o ano anterior, para 268 milhões. "Estamos de volta (à lucratividade), com força financeira", comemorava Thierry sexta-feira, lembrando que o retorno sobre o patrimônio atingiu 15% este ano. De 2002 para cá, o grupo AGF tomou algumas decisões estratégicas, reposicionando sua atuação mundial. A prioridade para novos investimentos passou a ser Índia e China, os mercados que mais crescem. Na América Latina a AGF resolveu sair do mercado de vida e previdência e focalizar em ramos elementares - o chamado "Properties & Casualties" (P&C), no jargão do mercado internacional (automóveis, residência, incêndio e grandes riscos industriais). Segundo Thierry, a AGF chegou à conclusão de que vida e previdência é negócio para os bancos. "Não podemos fazer tudo, então decidimos focar em riscos. Não vamos concorrer com os bancos porque não somos bancos, somos uma seguradora", afirmou o executivo. Thierry disse que a AGF quer crescer no Brasil apoiada em sua própria estrutura e em seus corretores, e não está preocupada com posição no ranking nem pretende adquirir empresas. "Queremos crescer organicamente e ser lucrativos." Sobre o mais recente evento que tem abalado o mercado segurador mundial, o escândalo envolvendo as grandes corretoras de seguros nos Estados Unidos, o "chairman" do grupo AGF acredita que será um marco. "As práticas vão mudar completamente e o nome do jogo será transparência."