Título: Agravamento da crise muda rumos da reforma ministerial
Autor: Raymundo Costa e Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2006, Especial/ Mudança ministerial, p. A6

Num clima em que o governo e o PT se preparam para endurecer com a oposição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta dificuldades de última hora para fechar a reforma ministerial a ser anunciada até sexta-feira. A principal delas, na coordenação política do governo, onde o ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, contrariando o interesse do partido, pode até permanecer. Cabe ao ministério dele cuidar das relações com os partidos e o Congresso, onde a oposição elegeu Lula como o próximo alvo da crise. Ruy Baron/Valor - 25/8/2005 Jaques Wagner: candidatura ao governo da Bahia pode vir a ser sacrificada para reforçar cordão de isolamento de Lula Até a posse de Guido Mantega no lugar do ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda), ontem à tarde, o presidente Lula ainda não havia consultado os partidos aliados sobre a mudança dos ministros que vão deixar o governo para concorrer às eleições de outubro. A tendência do presidente, no entanto, era de promover os secretários-executivos dos chamados ministérios técnicos. Para a coordenação política os nomes mais cotados eram os dos deputados Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e Luiz Carlos Sigmaringa Seixas (PT-DF). Os dois se dispunham a não disputar um novo mandato e aceitar a coordenação política como "missão", mas, segundo apurou o Valor, demonstram uma certa "perplexidade" com os desdobramentos verificados na crise que levou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, à demissão. Avaliação é que houve uma "quebra de confiança" tanto externa (para a sociedade) quanto interna (o governo e o PT) - em todo o episódio, sempre foi negado aos dois e aos líderes do partido no Congresso qualquer envolvimento do governo na quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. São dois perfis distintos. Greenhalgh é mais organizador, conhece detalhadamente os trabalhos das CPIs em funcionamento no Congresso e tem melhor trânsito na máquina partidária. Já Sigmaringa mora em Brasília, condição que lhe permitiria estar permanentemente à disposição de Lula, e tem mais trânsito no PSDB - partido ao qual já foi filiado - e no PFL. Uma virtude que pode se transformar em dificuldade no momento em que os "duros" do PT ganharam espaço no partido e no governo. José Dirceu, Luiz Gushiken e Palocci, os integrantes originais do chamado "núcleo duro do governo", tinham pontes com a oposição. Palocci, apesar das dificuldades nas negociações em torno da Lei Kandir, cultivava boa relação com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e com o prefeito de São Paulo, José Serra, ambos do PSDB. "O que não lhe adiantou muita coisa", diz hoje o senador Aloizio Mercadante. Já o novo grupo na linha de frente - Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Marinho (Trabalho) e o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP) - pretende contra-atacar a oposição na mesma intensidade. "Já temos endurecido. A oposição está indo para um tipo de interlocução que não pode ter outra classificação que não a de irresponsabilidade para com o país", diz Berzoini. "A partir de ilegalidades na CPI dos Bingos, tenta antecipar o debate eleitoral, porque não tem uma agenda. Aliás, tem uma agenda oculta: retomar o processo de privatização, a regulamentação trabalhista e a reforma da Previdência com caráter neoliberal". Para o PT de Berzoini, o ideal é que Jaques Wagner deixe o governo para dar um palanque a Lula na Bahia. O próprio ministro, no entanto, manifestava ontem dúvidas em relação a seu futuro imediato: diante da dificuldade para sua substituição no cargo, até mesmo os mais cotados para o ministério acham que o presidente Lula deve fazer um apelo para que ele continue no governo. Segundo Wagner, até ontem o presidente ainda não havia conversado com ele sobre o assunto. Além de Palocci, outros sete ministros devem deixar o cargo entre quinta-feira e sexta-feira: Agnelo Queiroz (Esportes), Alfredo Nascimento (Transportes), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), José Fritsch (Pesca), Saraiva Felipe (Saúde), Ciro Gomes (Integração Nacional) e José Alencar (Defesa). O oitavo pode ser Jaques Wagner.