Título: Pedido de petista acirra ânimos da oposição no Senado
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2006, Política, p. A12

A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), provocou ontem violenta reação da oposição ao solicitar do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), acesso às imagens registradas pelas câmeras de vigilância interna da Casa nos últimos 15 dias. O objetivo da petista era investigar os gabinetes de senadores supostamente visitados pelo caseiro Francenildo Santos Costa, o Nildo, nos dias que antecederam suas denúncias contra o ministro Antonio Palocci (Fazenda) -que desde então vive sua maior crise no governo. Segundo ela, a intenção era verificar a "motivação" de Nildo ao fazer acusações contra Palocci. Apontado como alvo de Ideli, o senador Antero de Barros (PSDB-MT) - que já afirmou publicamente ter recebido Nildo em seu gabinete - disse que não poderia aceitar o que considerou "violência ao estado democrático de direito". A líder petista foi chamada de "bisbilhoteira" pelo senador Heráclito Fortes (PFL-PI) e sua solicitação classificada pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), como mais um gesto "autoritário e impensado" do governo petista. Na véspera, o senador Tião Viana (PT-AC) também provocara confronto com a oposição, ao apresentar à Mesa do Senado requerimento quebrando o sigilo bancário do caseiro. O pedido de Tião será analisado pela Mesa e votado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e no plenário. Ontem, tentando acalmar os ânimos, o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), disse que a solicitação de Ideli "não contribui" e defendeu que a investigação ficasse restrita à Polícia Federal. Ao final, a líder petista pediu que as imagens das câmeras de vigilância do Senado sejam enviadas à Polícia Federal, em vez do seu gabinete, como havia solicitado originalmente. O bate-boca ontem quase ameaçou o acordo dos líderes para que fossem retomadas as votações no plenário. Havia exatamente um mês que os senadores estavam sem votar e oito medidas provisórias trancavam a pauta de votações. No início da noite, o plenário começou a discutir a MP que cria cargos efetivos e comissionados nas agências reguladoras - inclusive na recém-criada Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) - e em outras carreiras, como de diplomata e de pesquisa e tecnologia. Até às 19h30, a MP não havia sido votada. E a oposição ameaçava fazer alterações, para limitar a criação de cargos comissionados. Para Arthur Virgílio, trata-se de uma inciativa para "inchar a máquina". O presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), disse que o governo estava criando cargos "para apaniguados". Ele criticou ainda a criação de uma taxa sobre fiscalização da aviação civil. Sendo alterada, a MP precisaria ser novamente votada na Câmara dos Deputados.