Título: BS Colway produzirá 1,2 mi de remoldados em 2004
Autor: Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2004, Empresas, p. B-5

Quatro anos após iniciar a produção em Piraquara, na grande Curitiba, os sócios da BS Colway entraram em contagem regressiva para a conclusão da fábrica, que custará US$ 20 milhões. Hoje ela produz mensalmente 120 mil pneus remoldados e, em junho de 2005, deverá atingir a capacidade total de 200 mil unidades por mês. Apesar de ter espaço de sobra no local, o presidente da empresa, Francisco Simeão, contou que ampliações não estão previstas. "Não queremos crescer mais. Não gastamos tudo o que ganhamos aqui", diz. O empresário não revela quanto lucra, mas informou que o faturamento previsto para 2005 é de R$ 300 milhões, o dobro do esperado para 2004. Sócio majoritário da empresa que tem outros dois acionistas, Simeão prefere falar de responsabilidades social a tratar de negócios, embora também use as ações desenvolvidas pela BS Colway para ganhar a simpatia de quem visita a fábrica, uma vez que os pneus remoldados são alvos de protestos por parte de órgãos ambientais e ainda enfrentam resistências dos consumidores. A estratégia tem dado resultados e a BS Colway é citada até em salas de aula de universidades de Curitiba. Na região ela é conhecida como a empresa que paga para os funcionários fazerem ginástica (quem leva o compromisso a sério recebe até R$ 130,00 por mês), que contrata trabalhadores da vizinhança para que possam ir ao trabalho de bicicleta, que mantém o programa Bom Aluno (de apoio a crianças pobres e com bom desempenho escolar) e, recentemente, por criar um grupo de escoteiros. Há outros benefícios que, somados, rendem até R$ 200 a mais no salário. A BS Colway tem 700 funcionários, todos não-fumantes. Quem mantém em dia as consultas médicas e odontológicas ganha R$ 50 por mês. A empresa oferece a todos a assinatura de um jornal, e os que se comprometem a repassar aos vizinhos as principais informações garantem mais R$ 20. Simeão diz que a conta dos benefícios tem sido paga pelo aumento de produtividade. "Sabíamos que a produtividade tinha de crescer 12% para não perdermos dinheiro. Ela cresceu 37% em dois anos", afirma o empresário, que resiste ao convite dos funcionários para participar das aulas de ginástica e perder peso. "Tinha 119 quilos e estou com 103", avisa. Além da área de recursos humanos, a BS Colway gosta de divulgar ações ligadas ao meio ambiente. Com o programa Rodando Limpo, que incentiva a coleta de pneus inservíveis, a empresa ajudou o Paraná a combater a dengue e, em troca, ganhou depoimentos favoráveis de integrantes do governo. Ao lado da portaria da empresa há uma placa que informa que ela até agora foi responsável pelo recolhimento de 7,3 milhões de pneus velhos, que foram picados e enviados para a usina de xisto da Petrobras localizada em São Mateus do Sul (PR). Simeão contou que recentemente foi chamado ao Rio para mostrar como o mosquito deve ser combatido. As ações paralelas ao negócio são feitas enquanto a empresa enfrenta brigas judiciais para continuar a importar carcaças de pneus da Europa e investe 8% do faturamento em marketing para ganhar a confiança dos donos de automóveis e caminhonetes. Um dos atrativos apresentados pela BS Colway é o preço dos pneus, em média 40% mais baratos que os novos e que saem da empresa com garantia de até 80 mil quilômetros. Eles são vendidos em 130 lojas franqueadas e o empresário informou que outras 400 franquias estão sendo negociadas em todo o país. Simeão e os sócios começaram a importar pneus remoldados em 1991. Em 1998 decidiram que, para continuar no ramo, teriam de montar uma fábrica no país e enfrentar as resistências ao produto. Foi firmada então uma parceria com a inglesa Colway, que durou até 2002. A Colway transferiu o nome e a tecnologia com o compromisso de que os empresários trabalhassem pela regulamentação do setor. O primeiro passo para isso foi dado com a aprovação da resolução 258/99 do Conama, que determina aos fabricantes responsabilidades progressivas para a coleta de pneus. Hoje elas devem recolher um pneu velho para cada novo colocado no mercado. A indústria de remoldados, que aproveita principalmente as malhas de aço e nylon dos pneus importados usados, coloca no mercado 2,5 milhões de pneus por ano - quase metade da BS Colway, que aumenta a produção ano a ano. Em 2000 ela fez 150 mil pneus, passou para 300 mil, depois 500 mil, 780 mil e, em 2004, fará 1,2 milhão. Depois de 2005, quando espera remoldar 2,4 milhões de pneus, ela deixará de aumentar a produção. "Temos levado muitos tiros dos fabricantes de novos", diz Simeão. "Não queremos crescer mais."