Título: Limites da reforma, importação e reciclagem criam polêmica no país
Autor: Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2004, Empresas, p. B-5

As diversas modalidades de reforma de pneus num país onde nem todos podem comprar novos e a discussão a respeito da forma adequada para eliminar os que não servem mais é uma emaranhada polêmica que já dura alguns anos e, indicam os fatos, deve se estender, com mais força, em 2005. O pneu usado passou a ser objeto de desejo dos pequenos recauchutadores e também de Pirelli, Goodyear, Bridgestone Firestone e Michelin, que, por força de resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), são hoje obrigadas a cuidar da reciclagem dos velhos no mesmo ritmo em que produzem os novos. A indústria venderá neste ano no Brasil 55 milhões de unidades. Outras 4 milhões serão recauchutadas, segundo cálculo da Associação das Empresas Reformadoras de Pneus no Estado de São Paulo (Aresp) e pelo menos 6 milhões de pneus usados importados serão remodelados, segundo a Associação Nacional da Indústria de Pneus (Anip). A polêmica gira em torno dos limites aceitáveis para reformar, importar e reciclar pneus usados. No Brasil, um pneu usado pode hoje ser recapado, recauchutado ou remoldado. Na recapagem, a banda de rodagem é substituída por meio da aplicação de nova camada de borracha. A recauchutagem, segundo os técnicos do setor, é uma espécie de grau acima da recapagem, já que a reforma inclui a curva do pneu, chamado pela indústria de "ombro". A remodelagem faz a reconstituição total do produto, incluindo a lateral. A indústria é contra a remodelagem porque nesse processo toda a informação da procedência, marca e fabricação do produto fica escondida. Como a remodelagem é sempre feita em pneus importados, muitas vezes, argumentam os fabricantes, o trabalho pode ser feito em produtos destinados a usos completamente diferentes do que requer o solo brasileiro. Um pneu criado para solo de neve, por exemplo, pode estar sendo reutilizado no Brasil, onde o clima é muito mais quente. Os remodeladores argumentam não encontrar qualidade no produto nacional, que chega no mercado "na lona", no jargão do setor, e por isso partem para a importação. Mas essa importação vem sendo feita por liminares. O país proíbe a importação do produto usado, mas não retirou a sua classificação tributária. Assim, um pneu usado recolhe Imposto de Importação de 16%, a mesma alíquota do novo. Essa tributação abre a brecha para os recursos na Justiça. Já a recauchutagem não é tão mal recebida pelo setor. Segundo o diretor geral da Anip, Vilien José Soares, a indústria não é contra. "Um pneu é projetado para ser reformado", explica. Ademar Araujo Queiroz do Vale, diretor-executivo da Aresp, que representa os reformadores, diz que esse mercado trabalha essencialmente como prestador de serviços. Na maior parte dos casos, explica, os frotistas de caminhões e ônibus levam os pneus que compraram novos e estão já desgastados para que essas empresas façam a recauchutagem e os recolhem após a transformação. "Pneu é o segundo ítem nos custos numa transportadora", justifica Vale. A polêmica no setor se completa com a resolução 258/99 do Conama, que atribui aos fabricantes o recolhimento e reciclagem de pneus velhos no país. Eles estão tentando convencer o órgão a rever os volumes para baixo porque, argumentam, as projeções estão superestimadas. Segundo a Anip, desde que a resolução entrou em vigor, 300 mil toneladas já foram recicladas, 70 mil só neste ano. O Conama determina que o setor deveria reciclar neste ano o equivalente a 100% do que venderá - 55 milhões unidades. Para Soares a meta é impossível de ser atingida. Ele calcula que neste ano não mais do que 7 milhões unidades foram recicladas. A escassez se deve não apenas ao mercado das reformas do produto como também ao uso além da vida útil. A indústria espalhou centros de coleta pelo país e lançou campanhas de conscientização. Reciclado, o pneu serve à indústria de cimento e de laminados.