Título: Cooperativas prevêem renda agrícola menor
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 15/02/2006, Agronegócios, p. B12

Preocupado com as previsões de uma nova queda da renda rural nesta safra, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, começou uma ofensiva política interna para pressionar a equipe econômica a liberar mais dinheiro ao setor. O principal objetivo é garantir recursos para sustentar os preços no auge da comercialização da safra de grãos, que começa em março. A primeira manifestação pública dessa pressão coube aos aliados de Rodrigues no setor cooperativista. A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) divulgou ontem, após reunião com o ministro, uma estimativa de perda de renda de R$ 13 bilhões neste ano se não houver uma intervenção estatal no mercado. Em 2005, a renda agropecuária encolheu R$ 17,2 bilhões sobre 2004, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA). Com a promessa de elevar o tom da bancada ruralista no Congresso, o setor cooperativista pediu a liberação imediata de R$ 2 bilhões para a comercialização desta safra. Uma emenda da bancada propõe adicionar R$ 1 bilhão ao orçamento de R$ 650 milhões das Operações Oficiais de Crédito, a chamada 2OC, sob a tutela do Ministério da Fazenda. Liderados pelo presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, dirigentes cooperativistas insistem no aumento do orçamento da 2OC, o que elevaria os gastos em compras diretas (AGF), financiamento da estocagem (EGF) e leilões de contratos de opções para travar preços (hedge) e de Prêmio de Escoamento de Produtos (PEP) para bancar o frete entre origem e destino da safra. "Esses recursos precisam sair neste momento de preços baixos". Segundo Freitas, a crise agrícola, que se arrasta desde o início de 2005, tem origem na forte valorização do real ante o dólar e no alto juro básico da economia, hoje em 17,25% ao ano. Na semana passada, o governo federal anunciou um "pacote de bondades" para elevar em até R$ 1,7 bilhão os recursos das exigibilidades bancárias, parcela de 25% com aplicação obrigatória pelos bancos no setor, com juros subsidiados a 8,75% ao ano. As medidas incluíram R$ 2,5 bilhões para AGF e EGF aos produtores de arroz, leite e trigo, além de R$ 100 milhões para os cafeicultores. Para socorrer os produtores endividados com compra de máquinas e ampliação do plantio, o governo estuda permitir a renegociação das dívidas vinculadas a Cédulas do Produto Rural (CPRs) do Banco do Brasil com recursos da linha Giro Rural do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que tem R$ 2,2 bilhões em caixa. Isso pode baixar de 26% para 13% ao ano os juros pagos pelos produtores. Responsáveis por aproximadamente 6,5 milhões cooperados agrupados em 7.363 cooperativas, os dirigentes do setor querem uma sinalização do governo ainda em fevereiro para evitar uma nova redução da atividade, que implicaria queda de renda, de empregos e da produção agroindustrial. "O setor está desanimado, porque está vendo, mesmo antes da colheita, que não dará para pagar as dívidas", afirmou Freitas. Consforme ele, medidas pontuais, como a renegociação de dívidas e auxílio à comercialização, exigem a adoção de medidas estruturantes de política agrícola. A forte queda da renda no campo tem tido reflexos importantes na atividade industrial de estados com forte participação da agroindústria, como Rio Grande do Sul e Paraná. (MZ)