Título: Bancos federais reforçam atuação no crédito ao varejo
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2006, Finanças, p. C8

Os dois grandes bancos federais de varejo estão reorientando suas estratégias de negócios em 2006 para retomar terreno perdido no crédito a pessoas físicas no ano que acaba de terminar. A grande novidade no Banco do Brasil (BB) será a constituição de uma financeira para disputar o público de não-clientes, segmento no qual os grandes bancos privados mais crescem. A Caixa Econômica Federal também está terminando de formatar uma solução para enveredar pelo mesmo caminho, mas operando diretamente pelo próprio banco. " Até agora, nosso modelo de negócios era ampliar a nossa base de clientes e estreitar relacionamento, vendendo todos os tipos de produto bancário, principalmente crédito " , afirmou o vice-presidente de varejo e distribuição do BB, Antônio Francisco de Lima Neto. " Esse modelo tem sido bem-sucedido, mas o banco pretende construir uma nova arena: o relacionamento com não-correntistas, para vender crédito, cartões e seguros. " Num mercado com forte expansão em 2005, o crédito de instituições públicas cresceu apenas o equivalente a 0,7 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB), de 10,4% para 11,1%. Enquanto isso, bancos privados nacionais avançaram 1,8 ponto percentual, de 10,7% para 12,5% do PIB. Bancos estrangeiros cresceram de 5,9% para 6,8% do PIB. O desempenho abaixo do registrado pelos concorrentes privados abriu a temporada de reflexão nos dois grandes bancos federais. No BB, a conclusão foi que o modelo de negócios não permitia acompanhar o avanço das instituições privadas, embora tivesse respondido favoravelmente ao que se propunha. Os financiamentos diretos ao consumidor respondem por apenas um terço da carteira de pessoas físicas no BB, enquanto no mercado o quadro é inverso, com dois terços da carteira de crédito representadas por esse tipo de financiamentos. Um exemplo é a carteira de financiamento de veículos, mercado que cresceu 28,8% em 2005 até novembro, chegando a R$ 49,040 bilhões. O BB atua no segmento apenas por meio do crédito pré-aprovado, que é contratado de forma automática nos terminais. Ou seja: o público-alvo do produto é o próprio correntista do BB. Bancos privados, porém, atuam de forma mais agressiva nesse segmento, por meio de financeiras, com agentes e quiosques instalados em revendedores de automóveis. Dessa forma, chegam a clientes e não-clientes, incluindo os 21 milhões de correntistas do BB -parte dos quais, intensamente assediados por financeiras, não se lembram de usar o limite de crédito aprovado pelo banco. Nos próximos dias, o BB espera colocar na rua seu novo produto para financiamento para veículos, instalando-se em revendedores de automóveis. Os bancos privados cresceram rápido também por meio das suas associações com varejistas - caso das parcerias do Bradesco com as Casas Bahia e do Itaú com o Pão de Açúcar. " Estamos partindo também para parcerias com varejistas " , disse Lima Neto. " Achamos que a placa do BB nos pontos de venda vai fazer a diferença. " Associações com redes de varejo também é o caminho para o BB expandir sua base de cartões de crédito entre não-clientes. O nicho de não-clientes também entrou no radar da Caixa, que prepara soluções para serem implantadas em 2006. Ao contrário do BB, o modelo não será abrir uma financeira, mas sim agregar as operações dentro do próprio banco. Em 2005, a Caixa registrou um desempenho abaixo da média de mercado nas operações a pessoas físicas - no banco, elas cresceram 15,5% até novembro, para R$ 20,2 bilhões, enquanto o mercado avançou 37,4%. O que salvou o desempenho comercial da Caixa foram os empréstimos a pessoas jurídicas, que se expandiram 84% até novembro, para R$ 16,9 bilhões. Na média, a carteira comercial cresceu 41,06%. " Está sendo desenvolvido um modelo para crescermos no financiamento de veículos " , adianta o diretor de crédito da Caixa, Carlos Henrique Almeida Custódio. A instituição oferece o produto apenas na forma de crédito automático pré-aprovado.