Título: Brasil espera relação melhor com o novo governo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2004, Internacional, p. A10

Independentemente de quem ganhe neste domingo as eleições presidenciais uruguaias, a expectativa das autoridades brasileiras é que as relações com o Brasil melhorem. Isso porque tanto o esquerdista Tabaré Vázquez quanto seu rival mais próximo, Jorge Larrañaga, do Partido Nacional, afirmam que buscarão ampliar a inserção internacional do Uruguai, através do Mercosul. Durante o governo do presidente Jorge Batlle, o Uruguai teve com freqüência uma postura dissidente em relação ao resto do bloco. Foi o único membro que decidiu não integrar o G-20, grupo liderado pelo Brasil que reúne países emergentes com interesse na abertura do setor agrícola na rodada Doha da OMC. Seu embaixador no Mercosul, Carlos Perez de Castillo, na condição de presidente do Conselho Geral da OMC, elaborou um documento considerado pelo Brasil prejudicial ao interesse dos países em desenvolvimento. À revelia dos outros países do bloco, Batlle apresentou a candidatura de Castillo à direção da OMC, e o Brasil reagiu apresentando como candidato o embaixador Luiz Felipe de Seixas Correa. Além disso, o presidente sempre colocou como meta individual a assinatura de um acordo de livre comércio com os EUA, o que destoa totalmente da postura do Mercosul de negociar em bloco. A crise de 2002 sepultou as chances de um pacto entre Montevidéu e Washington, mas Batlle conseguiu recentemente concluir um acordo de investimentos com os EUA, a ser referendado pelos parlamentos. Na visão brasileira, a postura de tentar se diferenciar do resto do bloco e tomar decisões sem consultar os outros sócios debilita o Mercosul. O governo de Batlle terá, já com o novo presidente eleito, a tarefa de negociar as mudanças no Tratado de Ouro Preto, que estabeleceu as regras de funcionamento do Mercosul como união aduaneira. Mudanças importantes devem ser decididas e uma fonte do governo brasileiro consultada pelo Valor afirmou esperar que todas as forças políticas do país possam participar da discussão. As atitudes de Batlle geraram algumas reações de funcionários do governo brasileiro, mas fontes do governo avaliam que, apesar dos atritos, o relacionamento com a gestão atual foi satisfatório. No início do mês, o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, expressou seu apoio explícito à candidatura de Vázquez à Presidência, o que resultou em uma queixa formal da chancelaria uruguaia ao governo brasileiro.