Título: Aécio descarta debate sobre 2006 e nega que Alckmin seja candidato natural
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2004, Política, p. A5

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), começa a agir para barrar o debate sobre a sucessão presidencial ainda este ano. Ontem em São Paulo ele negou que o governador paulista, Geraldo Alckmin seja candidato natural do PSDB e disse que os articuladores do governo federal estão sendo irresponsáveis ao montarem desde já a coligação para a reeleição de Lula. Disse que vai se empenhar em retirar eleição da pauta. "Minha missão é colocar 2005 na agenda", afirmou o governador, em evento com empresários em São Paulo. "O PSDB não tem candidatos colocados. É natural que o governador Alckmin seja visto como o nome natural, mas ele é o último a querer a antecipação desse processo", disse Aécio, para quem a antecipação do processo sucessório está partindo da base governista. O governador paulista foi apontado como o candidato natural do PSDB por lideranças tucanas de fora de São Paulo, como o senador Tasso Jereissati (CE) e o governador de Goiás, Marconi Perillo, logo após as eleições. Desde sua vitória para o governo mineiro em 2002, Aécio Neves é tido como presidenciável, mas não para o próximo pleito. Colaborou para esta percepção as dificuldades que o mineiro encontrou na administração. O próprio governador relatou que em seu primeiro ano do governo teve que contingenciar 20% do Orçamento e acabar com 3 mil cargos de confiança. Embora as pesquisas de opinião não apontem Aécio como um governante impopular, ele preferiu não correr riscos na disputa municipal. Na eleição deste ano para a Prefeitura de Belo Horizonte, pela primeira vez em sua história o PSDB não apresentou candidato próprio. É com a possibilidade de Aécio se reeleger em Minas que o Planalto pretende jogar para dividir a oposição. Há vários meses, integrantes do comando político do governo pensam em neutralizar a ação que o mineiro poderia ter na sucessão presidencial. A idéia é oferecer facilidades para que o tucano se reeleja em Minas, em troca de uma participação pequena do governador na campanha presidencial do candidato de seu partido. Na ótica destes governistas, Aécio não tem interesse em concorrer à Presidência em 2006, mas gostaria de fazê-lo em 2010, quando poderia encerrar um eventual segundo mandato como governador mineiro com a candidatura de seu partido à Presidência. Para que isso ocorresse, o ideal para o tucano seria a derrota do PSDB na próxima eleição, de modo a que o mineiro ficasse com menos adversários internos na eleição seguinte. A retórica do governador ontem, contudo, desautoriza a versão de que já existiria um acordo. Para Aécio, o governo atirou o país em um impasse no Congresso ao usar a eleição municipal deste ano para ganhar corpo na sucessão presidencial. "O próprio presidente Lula foi levado a se expor de forma demasiada nesta eleição, diferente da postura que ele me antecipava há alguns meses que iria tomar. Tudo isso vai gerando dificuldades. O que fica para mim absolutamente claro é que sempre prevalece o interesse do PT e não o interesse do governo", afirmou. Para Aécio, "jamais houve uma paralisia tão grande no Legislativo nas últimas quatro legislaturas. O governo poderia mudar esta lógica se começasse a discutir o mérito das questões. Há uma irresponsável antecipação de 2006 e não deve partir de nós estimular o terceiro turno das eleições presidenciais". Segundo o mineiro, "interessa mais ao governo que às oposições que tenhamos um clima de serenidade durante o ano que vem. Caso se estabeleça aqui um ambiente político desconfortável, de radicalização, isto pode significar desequilíbrio econômico".