Título: AIG maquiou as perdas no Brasil
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 30/05/2005, Finanças, p. C8

Segundo a Justiça americana, a seguradora escondeu prejuízo com a desvalorização cambial de 99

O indiciamento por fraude da seguradora AIG (American International Group) e do ex-CEO, Maurice Greenberg, inclui uma operação fraudulenta feita para esconder prejuízos na subsidiária brasileira. A seguradora deve republicar os resultados esta semana. Segundo a acusação do promotor do estado de Nova York, Eliot Spitzer, a AIG montou operações fictícias de resseguro com companhias em Taiwan para evitar reconhecer o prejuízo com a desvalorização do real em 1999. Pelo que se depreende do texto da acusação, a AIG não tinha hedge de sua participação na Unibanco Seguros (referida no processo como Uniseg) e teria que reconhecer no balanço de 1999 um prejuízo operacional pela perda do valor em dólar do investimento. O prejuízo entraria no balanço da subsidiária nas Bahamas, American International Reinsurance Company (AIRCO), que controla a participação no Brasil. A AIG fez então uma operação para transformar esse prejuízo operacional em perdas em investimentos, que seriam menos danosas à reputação da empresa com analistas. O presidente da Unibanco Seguros, José Rudge, desconhece essas perdas. "A seguradora nunca teve retorno inferior a 21%", afirmou. A operação de hedge, acrescentou, foi feita pela AIG no exterior para cobrir das oscilações cambiais o investimento no Brasil e não tem qualquer impacto no balanço brasileiro. "Qualquer impacto no balanço lá fora é zero aqui. Toda a administração é local", disse Rudge. Os promotores de Nova York citam um e-mail de 9 de dezembro de 1999. "Temos um prejuízo em câmbio de US$ 44 milhões nas nossas operações de vida no Brasil, e recebemos o pedido de criar um contrato de resseguro antes do fim do ano que de alguma forma 'cancele' o prejuízo. A fonte do pedido é o time de Joe Umansky, aparentemente com base em instruções de Howie Smith". Joseph Umansky era um alto executivo da AIG que depôs à promotoria sobre as operações. Howard Smith é o ex-diretor financeiro da AIG, também indiciado. A solução encontrada foi fazer um contrato com a empresa Nan Shan Life Insurance, de Taiwan, que também subscrevia apólices de vida e tinha registrado perda. Utilizando uma terceira companhia chamada Union Excess, não consolidada no balanço, a AIG fez um contrato de resseguro no qual recebia recursos para compensar o prejuízo operacional na Nan Shan. Em troca, a AIG fazia um contrato supostamente de "investimentos" com a Union Excess que gerava uma perda. O resultado foi transferir os US$ 44 milhões "de vergonhoso prejuízo operacional para perdas mais palatáveis em investimentos", segundo o texto da promotoria. A segunda operação foi feita em 2000 com as duas empresas (a Nan Shan em Taiwan e a Union Excess. A segunda operação encobriu perda de R$ 56 milhões, mas desta vez não está clara a razão do prejuízo. Quando perguntado sobre as duas operações, o CEO da AIG, Maurice Greenberg, evocou a quinta emenda da constituição americana, pela qual não é obrigado a depor incriminando a si próprio. O argumento da promotoria é que Greenberg dava grande importância aos resultados operacionais (de subscrição de seguros) e tentava esconder perda disfarçando-a de prejuízo em investimentos, mais justificável pela volatilidade dos mercados. Segundo o indiciamento, as fraudes ocorreram ao consolidar o resultado da Unibanco Seguros em dólares na AIG e não no balanço brasileiro, que contabilizou os resultados em reais. A promotoria do estado de Nova York acusa a companhia de ter inflado artificialmente suas reservas e usado manobras contábeis para maquiar prejuízos operacionais com seguro do ramo de automóveis como se fossem perdas em investimentos. A fraude para elevar as reservas foi feita num contrato com a empresa General Reinsurance. Há ainda a acusação de que Greenberg tentou manipular o preço das ações da empresa até pouco tempo antes de perder o cargo de principal executivo. Segundo um comunicado da empresa americana no início deste mês, a seguradora republicará os resultados desde o ano 2000 até esta semana. O patrimônio líquido da companhia no fim de 2004 cairá cerca de US$ 2,7 bilhões, para US$ 80,1 bilhões. A empresa disse que a contabilidade de "alguns derivativos" foi incorreta e precisará ser ajustada. A AIG admitiu ainda no comunicado que algumas transações "podem ter envolvido informações erradas" aos auditores e reguladores. Sobre as operações mencionadas por Spitzer, o comunicado da AIG diz que "operações de resseguro com a Union Excess não resultaram em transferência de risco", mas não menciona os nomes das empresas de Taiwan. (Colaborou Maria Christina Carvalho)