Título: Alckmin remonta base de apoio de olho em 2006
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2005, Política, p. A7

Confiante que a discussão sobre a candidatura presidencial dentro do PSDB só começará no segundo semestre, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, reorganiza a sua base local de apoio e começa a planejar uma agenda de viagens pelo país para divulgar seu nome nacionalmente. O governador pretende dar preferência aos convites que possam ser relacionados à sua administração, onde a redução da carga tributária é um carro chefe. Hoje mesmo, Alckmin anuncia mais um pacote de cortes de tributos. Nas próximas semanas, Alckmin cogita ir a um almoço com empresários no Rio, a duas feiras de agronegócios, em Sinop (MT) e São José dos Pinhais (PR) e a uma reunião de prefeitos em Curitiba. Alckmin também conta usar seu espaço no programa nacional de TV do PSDB, em 15 de junho, ainda que o espaço seja dividido entre outros presidenciáveis do partido: o governador mineiro Aécio Neves, o prefeito de São Paulo, José Serra e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na avaliação do secretário da Casa Civil do governador, Arnaldo Madeira, a CPI dos Correios que deverá ser instalada na quarta-feira manterá o foco das atenções voltado para as dificuldades do governo federal, diminuindo a pressão sobre os presidenciáveis tucanos. A instalação de uma CPI do setor elétrico para investigar privatizações como forma de constranger o PSDB não o preocupa. " Tudo que já veio à tona sobre as privatizações nos permite pensar que uma CPI sobre o tema ficaria discutindo a respeito das decisões políticas que foram tomadas à época. É muito diferente do caso da outra CPI onde o que está em discussão é um caso de corrupção", disse. A reestruturação do secretariado visa a consolidar a mudança de aliança em torno do governo Alckmin, que cria pontes com partidos que apóiam o governo federal, como o PL, o PTB e o PMDB. Se a emenda da verticalização das coligações cair, será possível Alckmin montar uma frente para a sua sucessão com partidos que poderão estar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no plano nacional. A Secretaria de Cultura já foi entregue ao PPS e a Secretaria de Turismo será criada para o PL, mas a maior aposta estratégica é com o PMDB do ex-governador Orestes Quércia. "O PMDB teve um papel importante ao nosso lado nas últimas votações na Assembléia e poderá ter conosco uma aliança eleitoral e participação no governo. Mas estamos só no começo do namoro e tudo está ainda para ser conversado", disse Madeira. O PFL deixou de ser considerado parceiro desde a vitória do pefelista Rodrigo Garcia para a presidência da Assembléia Legislativa, apesar da relação de Alckmin com o vice pefelista Claudio Lembo ser descrita como boa por Madeira. "Dos nove deputados do PFL, temos três que estão conosco", afirma. No cenário de 2006, já se trabalha no PSDB com um quadro em que o PFL terá candidatura própria ao governo estadual, provavelmente a do presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos. E não se acredita na sua desincompatibilização, caso Alckmin não seja o candidato a presidente do partido. A candidatura ao Senado é tida como descartada. No sábado, Alckmin fez discurso de candidato à militância presente ao 8º Encontro Estadual do PSDB, no Anhembi, em São Paulo. Quando chegou, foi ovacionado com gritos de "Brasil Urgente, Geraldo Presidente". O encontro tucano foi o primeiro ato concreto do PSDB estadual para a pré-candidatura de Alckmin. Faixas e camisetas produzidas pela "Juventude do PSDB exibiam: "O Brasil precisa de um gerente, Alckmin presidente". Nem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nem o prefeito José Serra, porém, apoiaram publicamente a candidatura do governador. O prefeito voltou a descartar concorrer a cargos no ano que vem, mas não mencionou o nome do governador. Já FHC, questionado se apoiava Alckmin, foi sucinto: "Apoio o candidato do PSDB". FHC fez um discurso forte, com críticas ao governo do PT. Para ele, o país está sem rumo e o governo petista mais parece "um peru bêbado": "Estamos num momento em que todos se olham e se perguntam: qual é o rumo? E eles (o governo Lula), derrotados, ficam nesse alvoroço de peru bêbado em dia de pré-Natal". O ex-presidente foi além: "Nós estamos aqui para gritar, para pedir rumo e para dizer. Se vocês (do PT) não são capazes de dá-lo, nós sabemos". Antes, FHC havia criticado o encontro da executiva petista, que também ocorreu no fim de semana em São Paulo. "Eles não estão discutindo proposta como nós, estão lá para brigar e abafar, abafar o que a rua já sabe". FHC puxou aplausos ao dizer que o Fome Zero virou "eficiência zero". Disse que o PSDB "nunca foi um partido pretensioso": "Às vezes, nós podemos errar, mas temos de ouvir, antes de cacarejar. Essa gente cacareja sem parar e eu não estou vendo nenhum ovo". (Com agências noticiosas)