Título: Acordo deixa antigo dono mais perto de retornar à Bombril
Autor: Vanessa Adachi e Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2005, Empresas &, p. B1

Um acordo assinado ontem encerra uma das mais ruidosas brigas societárias dos últimos tempos, a da Bombril S.A. Depois de mais de seis meses de negociações, o governo italiano e o antigo dono, Ronaldo Sampaio Ferreira, concordaram em compartilhar a gestão, hoje sob administração judicial. O acordo suspende o processo de execução de Sampaio contra a italiana Cirio, que está concordatária e é administrada pelo governo da Itália. No processo, aberto em 2002, Sampaio cobra a dívida deixada por Sergio Cragnotti, que controlava a Cirio até a concordata. Nos anos 90, o italiano adquiriu de Sampaio o controle da Bombril, mas não concluiu o pagamento. A dívida é calculada pela Justiça brasileira em US$ 220 milhões. O documento cria uma situação intermediária até que as duas partes resolvam como essa dívida será paga, o que deve acontecer até o fim deste ano. "Gerir a empresa juntos é algo bem democrático e com isso teremos tempo para um acordo final. Ao menos já estamos lá dentro", disse Sampaio ao Valor. "A idéia é chegar a um acordo satisfatório para nós (governo italiano) e para o credor, o Ronaldo", disse Federico di Franco, presidente do conselho de administração da Bombril Holding, que é controlada pela Cirio e detém 99% das ações ordinárias da Bombril S.A.. Franco é indicado pelos italianos. As bases para o acordo definitivo já estão prontas e tudo caminha para que o controle seja devolvido a Sampaio para quitar a dívida. Enquanto o brasileiro não assume de vez a Bombril, optou-se por não perder mais tempo e recuperar ao menos a gestão da companhia. "As duas partes chegaram à conclusão de que a administração judicial da Bombril não era eficiente para ninguém", disse o advogado Mauro Guizeline, sócio do Tozzini Freire, que representa o governo italiano. A administração judicial, que começou em meados de 2003, resultou do processo de execução movido por Sampaio, depois que ele obteve a penhora das ações da Bombril S.A. que pertencem à Cirio. Apesar disso, no final do ano passado Sampaio perdeu o único representante que tinha no conselho de administração da companhia. A maioria dos conselheiros foi escolhida pelo administrador judicial, José Paulo de Sousa. "O governo italiano, apesar de ter as ações ordinárias, nunca teve um assento no conselho da empresa", disse Di Franco. O acordo de acionistas fechado ontem tem prazo de cinco anos. Até o fim de 2005, ele dá a Sampaio três dos cinco assentos do conselho de administração. Os outros dois ficam com o governo italiano. "Durante esse período, o processo de execução contra a Cirio fica suspenso", disse o advogado Eduardo Secchi Munhoz, do escritório Lilla, Huck Advogados, que representa o empresário brasileiro. Se o entendimento final sair até dezembro, o acordo de acionistas perde a validade. Caso contrário, inverte-se a composição do conselho, dando maioria aos italianos e, neste caso, o processo judicial volta a correr e as ações devem ser leiloadas. "Agora, eu volto a presidir o conselho de administração e a diretoria será profissionalizada", afirmou Sampaio. A assinatura do acordo de acionistas foi informada ainda ontem à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), à Bolsa de Valores de São Paulo e à Justiça. Os advogados de Sampaio apresentaram ontem ao juiz da 10ª Vara Cível de São Paulo, onde corre o processo de execução, a renúncia ao usufruto judicial das ações. Na prática, essa decisão deve abrir caminho para suspender a administração judicial e convocar a assembléia de acionistas que nomeará o novo conselho e a administração. Tanto Sampaio como os italianos contam com a possibilidade de enfrentar resistência por parte dos atuais administradores da Bombril. Em março, o conselho da Bombril S.A., presidido por Valmir Camilo, pediu à Justiça a penhora das ações ordinárias da empresa em favor dela própria por conta de créditos que alega ter junto à Bombril Holding. Existe a possibilidade de a penhora ser concedida antes que o fim da administração judicial seja homologado. "Mas não há razão jurídica para que a homologação demore mais do que alguns dias", disse Munhoz. Com base nessa expectativa, Sampaio já começou a entrevistar executivos para compor a nova diretoria da Bombril e faz planos para a retomada do controle. Ele considera que seu maior desafio será recuperar a identidade cultural da empresa, que em sua opinião se perdeu com as sucessivas trocas de comando desde a época de Cragnotti. "Tem muita gente lá dentro que não sabe quantas utilidades Bom Bril tem."