Título: Afagos e broncas em São Paulo
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 26/01/2010, Brasil, p. 10

Lula recebe homenagem e convida Kassab para segundo PAC. Manifestantes protestam por causa das enchentes

São Paulo ¿ O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou ontem o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), para ajudar a elaborar a segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2011/2015 e, com isso, priorizar obras que acabem com os problemas das enchentes. O PAC é a principal arma do PT para tentar levar Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil, à Presidência da República. Lula fez o convite a Kassab logo após receber a medalha 25 de janeiro, concedida a personalidades que trabalharam pela cidade de São Paulo, que ontem comemorou 456 anos de fundação.

Enquanto Kassab entregava as medalhas a Lula e ao governador de São Paulo, José Serra, no prédio da prefeitura, cerca de 50 moradores do Jardim Pantanal, Zona Leste da capital, faziam protesto do lado de fora usando tambores e apitos. O bairro está há 50 dias inundado. ¿Desde que os rios Tietê e Pinheiros transbordaram, minha casa está cheia de água. Perdi televisão, sofá, computador e geladeira¿, reclamou a dona de casa Celina Jubran, 44 anos.

No aniversário de São Paulo, a cidade ficou o dia inteiro em estado de atenção por causa das chuvas. Em Carapicuíba, Grande São Paulo, as chuvas provocaram um deslizamento de terra que destruiu 19 casas. Segundo o Corpo de Bombeiros, não houve mortos nem feridos porque a terra desceu devagar e os moradores conseguiram sair a tempo. Outras 30 casas foram interditadas. ¿Foi um milagre ninguém ter morrido¿, ressaltou o coordenador da Defesa Civil local, José Pires Moreira. Segundo Moreira, há uma obra do PAC para canalizar o Córrego Cadaval e construir avenidas marginais que está paralisada por falta de verbas do governo federal.

Na cerimônia de entregas de medalhas, Lula disse que as enchentes em São Paulo ocorreriam hoje independentemente do partido que administra a cidade. ¿Nós precisamos (...) sentar e tentar encontrar uma alternativa definitiva para resolver o problema das enchentes, da saúde, dos transportes e da segurança. Não é culpa do prefeito, do governador ou do presidente. Possivelmente, é culpa de todos nós¿, disse Lula em discurso. Em seguida, o presidente fez o convite para Kassab dar palpites no PAC 2, que será lançado em 26 de março.

Lula lembrou ainda que enfrentou três enchentes e água com mais de um metro de altura em casa, na região da Vila Carioca, assim que chegou a São Paulo. ¿Não é de hoje que dá enchente. Naquele tempo, eu trabalhava no armazém Columbia e a gente, muitas vezes, não ia trabalhar porque a Rua Presidente Wilson enchia e obviamente eu gostava porque não tinha que trabalhar naquele dia¿, ressaltou.

Na hora de discursar, Gilberto Kassab, que é aliado de Serra, não respondeu se aceitará o convite de Lula para dar palpites no PAC 2. Ele aproveitou para ressaltar o trabalho do companheiro José Serra: ¿O presidente, assim como o governador, tiveram oportunidade de ratificar o compromisso com a cidade de São Paulo. Isso não nos surpreende, é uma continuidade da ação que tem acontecido ao longo de seu governo e do de José Serra¿, afirmou.

De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), a chuva de ontem marcou o 34º dia seguido de precipitação na capital. O temporal de ontem levou o órgão a colocar as zonas Sul, Oeste e Marginal Pinheiros em estado de atenção desde a 1h da tarde. O CGE divulgou boletim dando conta que já choveu em São Paulo em janeiro o equivalente a 361,9 milímetros, ou seja, 51,4% acima da média esperada para todo o mês. Em 15 anos de medições do CGE, este é o janeiro mais chuvoso.